Presidente angolano é criticado por grande nome do partido
28 de agosto de 2012A reportagem da DW África constata bandeiras e cartazes de diversos partidos pelas ruas de Luanda: Porém a propaganda do partido no poder, o MPLA, tem maior presença do que todas as outras siglas juntas. "São enormes os painéis com as cores do MPLA. Edifícios em construção tem a foto do rosto do Presidente", descreve António Cascais, enviado especial da DW África a Luanda.
José Eduardo dos Santos está na Presidência de Angola há quase 33. O cabeça de lista do MPLA discursará na quarta-feira no Estádio 11 de Novembro, em Luanda, esperando que os cidadãos lhe deem uma vitória como presente na semana em que completa 70 anos. O maior partido da oposição, a UNITA ingressará com as ações na Justiça contra alegadas irregularidades nos preparativos para o pleito. "Fiscais de voto ainda não teriam sido credenciados e 2 milhões de eleitores ainda não constariam nos cadernos eleitorais, o que provavelmente inviabilizaria a participação destes cidadãos", informa Cascais.
A discreta atuação de observadores estrangeiros chama a atenção não somente dos jornalistas que conseguiram credenciamento para cobrir as eleições, mas também de organizações não-governamentais. "As condições para eleições livres e justas são piores em 2012 do que em 2008. A liberdade para a imprensa é mais restrita; registamos um número crescente de incidentes violentos nas cidades; neste ano não se nota a presença de observadores internacionais, e muitos nem sequer conseguiram ainda credenciamento", afirma Lisa Rimli, da Human Rights Watch.
Críticos no próprio partido
A três dias das eleições gerais em Angola, o antigo primeiro-ministro Marcolino Moco considera inevitável a vitória, à primeira volta, do partido no poder. Mesmo assim, ele apela ao voto dos eleitores para reverter a maioria do partido do qual foi secretário-geral e que é liderado atualmente pelo Presidente e candidato José Eduardo dos Santos.
Público contestatário do Presidente, Marcolino Moco diz que o país parece ter sido tomado por um golpe de Estado. “Estamos a ter eleições sob a égide de um golpe jurídico-constitucional. Em 2010, com a nova Constituição, o Presidente impôs, contra tudo e contra todos, uma Constituição que ele chama de “atípica”. Num regime hiperpresidencialista, ele eliminou as eleições presidenciais”, disse Moco em entrevista à DW.
A alteração constitucional, aliada aos últimos desenvolvimentos da liderança política de Angola constitui, para Marcolino Moco, um escândalo. Por isso, ele diz se identificar com MPLA de outrora, mas não com o de hoje, pois, para ele, o Presidente José Eduardo dos Santos suspendeu os valores partidários em que acreditava.
Um país "chocado"
“Angola tem estado chocada com a forma como o Presidente José Eduardo tem atuado nos últimos tempos, como promotor do nepotismo, promovendo seus próprios filhos para as listas da Assembleia Nacional. Distribuindo, por exemplo, um canal de televisão pública, permitindo que uma das suas filhas esteja a comprar ativos nos bancos, petrolíferas. Só admira que não haja reação da UE e de Portugal", dispara Moco.
Na visão do jurista Marcolino Moco, "todo o dia se está a fazer campanha a favor da reeleição do Presidente nos meios de imprensa estatal. "O Jornal de Angola, que é um periódico público, faz propaganda aberta a favor do candidato José Eduardo dos Santos”.
Moco diz que o presidente controlaria os meios de comunicação públicos com censura, além de ter comprado, ou mandado comprar, através de familiares, toda a comunicação privada. "Tudo isso foi adquirido com verbas do erário público ou com verbas de origem desconhecida”, denuncia o ex-primeiro-ministro.
Independentemente do resultado, Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro angolano (entre 1992 e 1996),e secretário executivo da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) apela aos jovens para que reajam de forma pacífica.
Autores: António Cascais e Glória Sousa
Edição: António Rocha e Marcio Pessôa