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ConflitosEtiópia

Discurso de ódio reina na Etiópia após ataques em Tigray

Jan-Philipp Wilhelm
5 de dezembro de 2020

A operação militar lançada pelo primeiro-ministro etíope contra em Tigray gera onda de revolta popular e aumenta o discurso de ódio na Etiópia. Será que o primeiro-ministro Abiy Ahmed foi longe demais?  

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Tigray-Konflikt | Mai-Kadra | Amhara-Miliz
Foto: EDUARDO SOTERAS/AFP

Os combates continuam em várias zonas da região etíope de Tigray apesar da reivindicação de vitória do Governo federal. O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, reclamou vitória no conflito há quase uma semana, dizendo que a operação militar tinha sido "levada a cabo com sucesso" e que os combates tinham terminado, depois de as tropas governamentais terem tomado a capital regional, Mekelle.

Ascomunicaçõesjá foram restabelecidas na região de Tigray, mas as cicatrizes do conflito geram ressentimentos de ódio e divisão social no país. As declarações de Abiy Ahmed ao chamar os líderes do TPLF de "mafiosos criminosos", aquecem os debates nas redes sociais.

"Devo dizer que também por causa da linguagem muito dura do gabinete do primeiro-ministro, nos últimos dias, acho que tudo agora volta à tona", disse à DW a especialista Annette Weber, da Fundação para a Ciência Política (SWP).

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou em 04 de novembro uma operação militar na região de Tigray (norte do país), após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês). Desde então, a região tem sido palco de ofensivas militares por ambas as partes, com o disparo de foguetes e de incursões para a captura de cidades.

Ataques verbais continuam

Nas últimas semanas, uma rajada de comentários depreciativos tomou conta das redes socais e medias etíopes, segundo vários observadores. O discurso de ódio revela a revolta da população contra as elites de TPLF em Tigray, que ocuparam cargos importantes nas forças armadas, desde 1991 até 2018.

Tigray-Konflikt | Militär Äthiopien
Combates continuam na região de Tigray, diz ONUFoto: Ethiopian News Agency/AP/picture alliance

O jornalista Martin Plaut, que já trabalhou como correspondente na Etiópia, diz que o povo está revoltado pela forma como governaram o país. 

"É evidente que há uma fúria reprimida contra as pessoas em Tigray, pela forma como governaram a Etiópia. E havia uma sensação de que tomaram a maior parte dos recursos da Etiópia, favoreceram-se, e que parte da elite em Tigray ganhou muito dinheiro com isso. E eu acho que é uma das questões que realmente está a alimentar o discurso de ódio".

O historiador da Universidade de Leiden, Jan Abbink, lamenta que pessoas com visões radicais, algumas provenientes da diáspora, queiram criar um clima de ódio na Etiópia. Mas enfatiza que o Governo faz uma distinção clara, em suas comunicações, entre os membros da TPLF e os civis em Tigray.

Na quarta-feira (03.12), as Nações Unidas assinaram um acordo com o Governo etíope para o acesso humanitário "sem restrições" à região, que vinha a exigir há várias semanas, alertando para uma potencial catástrofe em Tigray.

"Milhares de combatentes foram mortos"

Äthiopien | Premierminister | Abiy Ahmed Ali
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou em 04 de novembro uma operação militar na região de Tigray, norte do paísFoto: Michael Tewelde/AFP/Getty Images

"Temos relatórios de combates em curso em várias partes do Tigray. Esta é uma situação preocupante e complexa para nós", disse Saviano Abreu, porta-voz do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), citado pela agência France-Presse (AFP).

Quatro semanas de luta forçaram cerca de 45.500 pessoas a fugirem para o vizinho Sudão, mas também deslocaram um número desconhecido de homens, mulheres e crianças dentro de Tigray. Fonte do Governo regional de Tigray adiantou, entretanto, que milhares de combatentes foram mortos.

Com os líderes da Frente Popular de Libertação do Tigray em fuga, os receios de um conflito prolongado ganham força, mas com as comunicações e as ligações de transporte ainda em grande parte cortadas à região de seis milhões de pessoas, é difícil conhecer a situação no terreno, incluindo a extensão do apoio popular à TPLF.

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