Distúrbios em Zanzibar alertam para islamismo radical
30 de maio de 2012Durante quatro dias, os ataques destruíram ou danificaram carros, igrejas, bares e instituições religiosas. Motins que tiveram repercussões negativas na estabilidade política neste arquipélago semiautónomo, parte da União da Tanzânia. Os distúrbios não causaram vítimas. Não obstante, Zanzibar levará algum tempo a recuperar dos estragos políticos e econômicos. Os danos resultantes estão calculados em 500 milhões de euros, incluindo os custos da operação de restabelecimento da ordem pelas forças governamentais.
Depois dos incidentes, a situação em Zanzibar voltou à normalidade. Governo, polícia e líderes religiosos, reuniram-se para restituir a confiança mútua e trabalhar em conjunto. O comissário da Polícia, Ali Mussa, disse à DW África que a situação está controlada: “A cidade de Zanzibar está agora sob controlo policial. Até hoje, não disparámos nenhuma bala. Nem mesmo uma bala de borracha”. Mussa acrescentou não haver registo de feridos ou mortos: “Não há qualquer vítima. Ou seja, não usámos nunca força excessiva.”
Dezenas de detidos nos protestos
O comissário nega os rumores de que helicópteros do exército da Tanzânia tenham sido usados na operação. Este boato aumentou a fúria dos manifestantes em Zanzibar, que se opõem, principalmente, à União da Tanzânia. Segundo disse Moussa à DW África, os helicópteros encontravam-se em Zanzibar, com polícias do continente, apenas para consultas de segurança.
Recorde-se que a segurança começou a deteriorar no sábado, 26 de maio, ao final da tarde, depois de a polícia ter detido um dos pregadores da organização muçulmana Uamsho, a Associação para a Mobilização e Propagação do Islão. Maalim Mussa foi preso por organizar uma manifestação ilegal ao início da tarde, nos arredores da cidade de Zanzibar. Os líderes deste protesto espontâneo, mas, ainda assim, concorrido, de acordo com vídeos publicados nas redes sociais, disseram, mais tarde, que pretendiam enviar uma mensagem clara aos governos de Zanzibar e de Dar-es-Salam, para que convoquem um referendo sobre a união entre o arquipélago e a Tanzânia.Outros 29 manifestantes foram detidos durante o fim de semana que se seguiu, tendo sido libertados sob fiança, na segunda-feira, 28 de maio.
Distúrbios representam uma ameaça para o turismo
No dia a seguir, uma equipa de altos oficiais dos governos da Tanzânia e de Zanzibar visitou as zonas mais afetadas pelos protestos. Falando depois de um encontro entre autoridades do governo, líderes religiosos e agentes turísticos - já que o turismo é uma das principais fontes de receitas do arquipélago - o ministro dos Assuntos Internos, Emmanuel Nchimbi, apelou à paz e à confiança: “Zanzibar é respeitada a nível internacional pela sua população calma e justa. Este é o único lugar do Leste africano onde pode esquecer o seu telemóvel no táxi com a certeza que lhe será restituído. Não devemos deixar que este respeito desapareça”. Nchimbi pediu aos líderes religiosos que ajudem a impedir os jovens “a envolverem-se em violência.”
A detenção do líder religioso Maalim Mussa, desencadeou a maior parte da violência, levando à destruição de propriedades, entre carros, duas igrejas e outras instituições religiosas. Estas imagens fomentam o receio de um radicalismo islâmico nascente em Zanzibar.
Igrejas assaltadas
Referindo-se aos incidentes, o pastor da Assembleia de Deus da Tanzânia, Dickson Kaganga, cujo carro foi também destruído durante a violência, conta que a sua igreja foi atacada pelas dez da noite por desconhecidos: “Eu estava na igreja a preparar a missa matinal, quando ouvi uma multidão a chegar e a cantar “temos de destruir a igreja”. Kaganga mandou os seus assistentes saírem, para sua segurança, mas não quis partir antes da chegada da multidão: “Arrombaram a parede e as janelas. Juntaram cadeiras de plástico, regaram-nas com petróleo e lançaram fogo à igreja”.
A organização islâmica Uamsho nega firmemente qualquer envolvimento nestes motins, acusando o governo de ser irresponsável e injusto. O secretário-geral da Uamsho, Xeque Abdallah Said, disse à DW África que a sua organização nunca cometeria atos rejeitados pela sua religião: “Recebemos relatos de que igrejas foram incendiadas e que há atos violentos. Nós, enquanto Uamsho, acreditamos que isto foi levado a cabo por pessoas que não desejam bem ao nosso país e que não gostam da ideia de um referendo sobre a União, que nós queremos”. Abdallah Said rejeitou a responsabilidade “por estes atos de violência, já que o Islão fala de paz, estabilidade e respeito pelos locais de culto”.
Crescimento do islamismo
Desde as eleições gerais de 2010, Zanzibar tem vivido em paz, especialmente depois da reconciliação, em 2009, entre os dois partidos políticos rivais, Chama cha Mapinduzi (CCM) e a Frente Cívica Unida (CUF).
O referendo de julho de 2010, que aprovou a criação de um governo de união depois das eleições, abriu caminho à esperança de uma nova Zanzibar. Mas o crescimento do islamismo político entre os apoiantes de ambos os partidos, agora em conluio com a Uamsho, ameaça o futuro da União de 48 anos entre a Tanzânia e Zanzibar.
Autores: Mohammed Khelef/Maria João Pinto
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha