Divisões na RENAMO vão influenciar eleições em Moçambique?
27 de maio de 2024À medida que as eleições em Moçambique se aproximam, marcadas para 9 de outubro, o maior partido da oposição, a RENAMO, enfrenta uma crise interna que ameaça a sua coesão e as suas chances eleitorais. O presidente reeleito do partido, Ossufo Momade, encontra-se no centro de uma crescente onda de contestações que emergem das bases do partido, destacando-se a figura de Venâncio Mondlane, ex-candidato à câmara municipal de Maputo, que agora parece disposto a concorrer à Presidência da República, inclusive contra Momade.
A contestação interna a Ossufo Momade é significativa e não passa despercebida, conforme se pode notar pelas centenas de mensagens críticas enviadas à página do Facebook "DW Português para África". Um utilizador de nome Marcelino comenta: "Momade está a destruir todas as hipóteses da RENAMO conseguir um bom resultado nas próximas eleições." Outro, de nome Manucho, diz: "Somos contra o Momade. Nós queremos o Venâncio Mondlane."
Venâncio Mondlane, que foi candidato da RENAMO à câmara municipal de Maputo nas últimas eleições autárquicas, tornou-se, de facto, o rosto mais visível da contestação à liderança de Ossufo Momade.
O porta-voz da RENAMO, José Manteigas, tentou minimizar o problema, afirmando que o "assunto Venâncio Mondlane é do passado", numa altura em que o deputado e membro do partido já recolhe assinaturas para se candidatar à Presidência da República, contra o próprio Ossufo Momade.
Manuel de Araújo apoia Venâncio Mondlane?
Venâncio Mondlane parece imparável e mostra-se determinado a lançar uma candidatura independente, contando com o apoio de figuras de peso dentro da RENAMO, incluindo o edil de Quelimane, Manuel de Araújo. Inácio Reis, delegado provincial da RENAMO na província da Zambézia, afirma que Araújo é um ator chave nas manifestações que ocorrem na cidade contra o líder do partido.
"As fichas de apoio ao candidato Venâncio Mondlane são preenchidas no Conselho Municipal. Eu acredito que Manuel de Araújo é consciente de tudo isso. Do meu ponto de vista, como representante da RENAMO, ele deveria fazer uma intervenção rápida junto aos membros do Conselho Municipal. Mas ele até agora não se pronunciou sobre isso."
A DW contactou hoje o edil de Quelimane, que se encontra em Genebra, mas não obteve resposta às perguntas sobre o seu envolvimento no apoio a Venâncio Mondlane. Entretanto, a tensão interna foi exposta no último fim de semana, quando membros e simpatizantes da RENAMO voltaram às ruas na capital da Zambézia para contestar o congresso que reelegeu Momade.
Segundo um usuário da página da DW no Facebook, Danilo, a RENAMO saiu "muito fragilizada" desse congresso, refletindo um profundo divisionismo que pode afetar severamente os seus resultados nas urnas em outubro.
Risco para a RENAMO?
À medida que Venâncio Mondlane se prepara para lançar uma possível candidatura independente à Presidência de Moçambique, surgem debates sobre o impacto dessa decisão no futuro da RENAMO, o maior partido de oposição do país. Dércio Alfazema, analista político, avalia a situação com uma perspectiva dupla: "Por um lado, a candidatura de Mondlane poderia enfraquecer a RENAMO, pois pode dividir os votos do partido. Por outro, isso enriquece o processo democrático, aumentando as opções disponíveis para os eleitores."
Alfazema enfatiza a importância da participação cívica no processo eleitoral: "Todos têm o direito de concorrer, e mais candidatos significam mais escolhas para os eleitores. Isso fortalece a nossa democracia, especialmente se Mondlane conseguir oficializar a sua candidatura dentro dos prazos legais." Ele conclui que, independentemente dos desafios internos, o direito de Mondlane de se candidatar é um pilar democrático fundamental.
A situação interna da RENAMO, marcada por divisões profundas, poderia inadvertidamente facilitar a campanha da FRELIMO, que se apresenta mais unida e rejuvenescida com um novo candidato livre de controvérsias passadas. "Estamos num jogo político onde as fraquezas são exploradas ao máximo. Se a RENAMO e outras oposições não se reorganizarem, a FRELIMO poderá capitalizar sobre essas divisões", finaliza Alfazema.
Observadores consideram que a situação atual na RENAMO representa um momento crítico, tanto para o partido quanto para o cenário político do país.