Diáspora são-tomense espera que eleições tragam mudanças
4 de outubro de 2018Nelson Pontes é estudante de Ciência Política e Relações Internacionais. Veio de São Tomé sem bolsa do Estado. Decidiu desafiar o futuro por conta própria, enfrentando dificuldades, mas sempre atento aos acontecimentos na terra natal. É com expetativa que antevê as próximas eleições legislativas, autárquicas e regionais em São Tomé e Príncipe.
"Porque nos últimos quatro anos tivemos um Governo que prometeu muito, mas não conseguiu dar resposta às aspirações da população são-tomense. Mesmo distantes, nós conseguimos sentir o sofrimento, a dor e o sentimento de impotência da população", diz.
O estudante são-tomense diz que as expetativas criadas com as promessas feitas pelo Governo de Patrice Trovoada, em 2014, traduzem-se hoje num tremendo fracasso. E se pudesse votar, seria para "votar na mudança". "Porque com a força política que nós vimos [governar] nos últimos quatro anos ficou claro que não vamos a lado nenhum", critica.
Melhorar educação e saúde
Ilidiacolina Vera Cruz espera que o próximo Governo possa trabalhar em prol do real desenvolvimento do país, principalmente nas áreas da educação e da saúde. A presidente da Mén Nón - Associação das Mulheres de São Tomé e Príncipe em Portugal sublinha que é preciso melhorar as condições técnicas de diagnóstico, acompanhadas de políticas que permitam reduzir o número de doentes evacuados para o exterior.
"Sentimos que muitas vezes os doentes quando chegam a Portugal são abandonados completamente. Algumas vezes sem condições de subsistência, até medicamentosa. Existe uma série de ações que têm que partir da base, do Governo de São Tomé e Príncipe, para melhorar e minimizar estas carências na diáspora, principalmente em Portugal", defende.
Pode-se então esperar por uma mudança na política governativa com as eleições deste domingo em São Tomé e Príncipe? "Não tenho elementos palpáveis que me possam dar indicação que vai ou não vai haver mudança, neste caso da maioria, mas em conversas particulares, com amigos e familiares, a impressão é que os partidos da oposição não estão a entregar de bandeja a maioria absoluta à Ação Democrática Independente (ADI)", responde João Viegas d’ Abreu, presidente do Fórum da Diáspora São-Tomense.
"Estas eleições estão a ser muito mais disputadas em termos de campanha e participação de militantes dos demais partidos da oposição, ao contrário daquilo que se podia esperar, tendo em consideração o facto de não ter havido uma grande abundância de recursos financeiros como em períodos eleitorais anteriores", observa.
Imigrantes reclamam direito de voto
João Viegas afirma que, numa democracia recente como a de São Tomé e Príncipe, a ida às urnas "é sempre um motivo de satisfação". Contudo, a impossibilidade dos são-tomenses na diáspora votarem nestas eleições deixa "um grande amargo de boca".
"Nós não vamos participar de forma ativa. Somos considerados são-tomenses de segunda na medida em que não estamos habilitados para votar nas eleições legislativas, porque não foi alterada a Lei 11/90, que permitiria a criação de círculos eleitorais [no estrangeiro]", critica. "E talvez muitos possam pensar que existe alguma apetência da comunidade de imigrante são-tomense de fazer parte da Assembleia ou ser eleito como deputado, representante do povo. Não. O que nós gostaríamos era de podermos participar e contribuir para o processo democrático em São Tomé e Príncipe."
Sobretudo, argumenta João Viegas, quando se tem um número significativo de são-tomenses no exterior a rondar as 70 mil pessoas, o que representa cerca de 35% da população, que se preocupa com o que se passa no país.