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A paixão pelo Kuduro

22 de março de 2012

Daniel Haaksman é DJ e produtor da editora Man Recordings, em Berlim. Desiludido com os sons da música eletrónica da Europa, o berlinense encontrou nova paixão musical nos ritmos do Kuduro.

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Tony Amado (esq.) e Daniel Haaksman (dt.) no Festival União Eletrónica em Luanda, Angola, em novembro de 2011
Tony Amado (esq.) e Daniel Haaksman (dt.) no Festival União Eletrónica em Luanda, Angola, em novembro de 2011Foto: D.Haaksmann

Em 2005, Daniel Haaksman fundou a editora Man Recordings, especializada, inicialmente, em música brasileira, principalmente, do Rio de Janeiro, o Baile Funk. O DJ alemã ficou conhecido como um dos primeiros que importou o Baile Funk às pistas de dança na Europa. O seu álbum de 2004 "Rio Baile Funk Favela Booty Beats" continua a ser uma referência do Funk carioca.

Ao longo dos anos seguintes, juntaram-se outros estilos de música, como Kwaito da África do Sul ou então o tribal Guarachero do México, a Cumbia da América do Sul e o Kuduro de Angola.

Kuduro: uma nova paixão

Um dos estilos que Daniel Haaksman tenta de momento integrar na sua produção musical é o Kuduro: "É a música de dança perfeita! É muito energética, entusiasma as pessoas e é uma alegria passar Kuduro como DJ", diz Haaksman. "Todos os clubes ou pistas de dança explodem quando se toca o Kuduro. E o fantástico é que ou se dança ou se sai da sala."

O berlinense não resistiu ao estilo de música de dança angolana e procurou formas de ir até à fonte – Luanda. Haaksman confessa que não foi uma tarefa fácil por causa de entraves como o custo dos bilhetes ou da estadia, e também a falta de um convite para a obter um visto. No entanto, em 2011 teve uma surpresa.

A viagem à fonte

"No verão do ano passado surgiu o convite da embaixada alemã em Luanda para ir para lá, em novembro, para tocar num festival que se chama União Eletrónica. E neste festival, DJs angolanos e europeus tocaram música eletrónica juntos", conta.

Nesse festival ele teve a oportunidade de tocar com um dos seu ídolos do Kuduro, Tony Amado. "E ele mostrou-se interessado na minha música porque trouxe-lhe CDs e ele gostou muito de algumas faixas. E isso foi, naturalmente, uma confirmação para o meu trabalho de produtor."

Tony Amado é considerado um dos criadores do estilo Kuduro, contribuindo com novos passos de dança e novas batidas.

Kuduro em Berlim

Também em Berlim, em dezembro de 2011, Haaksman teve a oportunidade de rever e de conhecer outros artistas do Kuduro. Eles estiveram num evento organizado pelo governo angolano na capital alemã - Kuduro Sessions - onde participaram dezenas de kuduristas, como se chamam os artistas que se dedicam ao estilo de música de dança angolana.

Festival União Eletrónica em Luanda, em novembro de 2011: DJ Chloe (Paris), DJ Jesus (Luanda), Tony Amado (Luanda), Daniel Haaksman (Berlim)
Festival União Eletrónica em Luanda, em novembro de 2011: DJ Chloe (Paris), DJ Jesus (Luanda), Tony Amado (Luanda), Daniel Haaksman (Berlim)Foto: D.Haaksmann

No entanto, para Haaksman as coisas podiam ter corrido melhor: "Para além da festa, Kuduro Sessions, havia duas outras pistas de Techno onde DJs europeus ou de Berlim tocaram e que estavam muito mais cheias do que a pista do Kuduro." Daniel Haaksman também viu que "na pista do Kuduro estavam, principalmente, pessoas de origem angolana, moçambicana ou portuguesa que vieram, especialmente, por causa desta música. Mas ninguém de Berlim foi para o local, especialmente, para a sessão."

Oportunidade desperdiçada

Daniel Haaksman, critica, por isso, o seu próprio povo alemão: "Vivemos num país rico mas muito provinciano." Mas acrescenta que "já há algumas iniciativas ou blogues que se interessam por este estilo de música e que também o promovem."

Mas o DJ também não ficou satisfeito porque não houve nenhuma outra cooperação que tenha resultado da Sessão de Kuduro em Berlim. "Não houve workshops ligados ao evento onde produtores de Berlim pudessem entrar em contacto com os cantores angolanos. O que foi pena, porque se as pessoas estão aqui na cidade, por que não ficar mais dois, três dias e dizer: 'vamos para o estúdio e gravar MCs angolanos.'"

Planos para o futuro

Mas Daniel Haaksman fez contactos em Luanda e tem intenções de continuar a trabalhar com artistas angolanos. E já está a trabalhar num projeto, apesar de "não ser fácil fazer as coisas a partir de Berlim por email ou telefone."

Infelizmente para os curiosos, o projeto ainda está entre os segredos dos deuses, mas o DJ e produtor adianta que tem a ver com um novo estilo de música. "O que também está a fazer sucesso em Luanda é o Kuhouse, uma mistura da música House, que é mais lenta e instrumental, e o Kuduro, que é muito, muito rápido e mais textual. O Kuhouse é um híbrido, mas funciona muito bem na Europa."

E em princípio esta será a base do projeto futuro de Haaksman com artistas angolanos. A ideia é fazer com que angolanos façam remisturas de europeus.

Buraka Som Sistema é o grupo de Kuduro, que é internacionalmente mais conhecido
Buraka Som Sistema é o grupo de Kuduro, que é internacionalmente mais conhecidoFoto: AP
Festival União Electrónica em Angola: DJ Daniel Haaksman e Tony Amado
Festival União Electrónica em Angola: DJ Daniel Haaksman e Tony AmadoFoto: D.Haaksmann

Autora: Carla Fernandes
Edição: Johannes Beck