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"Dois tiros e uma gargalhada" para pensar o poder

Daniel Pinto Lopes6 de junho de 2013

Uma reflexão sobre a forma como muitos países de África, como a Guiné-Bissau, lidam com o acesso e o exercício do poder é o tema central da nova obra dramática do escritor guineense Abdulai Sila.

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"Dois tiros e uma gargalhada" para pensar o poder
"Dois tiros e uma gargalhada" para pensar o poderFoto: picture-alliance/dpa

"Dois tiros e uma gargalhada". O título da nova obra de Abdulai Sila expressa a mensagem que o autor pretende passar aos leitores. À DW África, o escritor diz que "chegou o momento de, aos tiros, se sobreporem os ecos de gargalhadas, que se vão ouvindo cada vez mais alto".

"Estamos num momento em que essa fase de turbulência, neste e noutros países africanos, tende a ser suprimida", considera o autor.

Com a leitura da nova obra dramática, Abdulai Sila espera que os leitores reflitam sobre a forma de acesso ao poder, assim como o modo como esse mesmo poder tem sido usado.

"Guiné-Bissau vive de transição em transição"

O escritor convida a que se reveja a forma, que diz ser violenta, de acesso ao poder por parte da classe política. "Agarrar-se ao poder é uma espécie de doença que não tem que ser", afirma, frisando que "as pessoas podem ter um modo de vida razoável, podem ser felizes, realizadas a nível pessoal, profissional e colectivo sem se agarrarem ao poder".

"Dois tiros e uma gargalhada" surge na sequência de uma outra obra de Abdulai Silá, chamada "As Orações de Mansata"
"Dois tiros e uma gargalhada" surge na sequência de uma outra obra de Abdulai Silá, chamada "As Orações de Mansata"Foto: Abdulai Sila

A Guiné-Bissau vive um período de transição, devido ao golpe de estado de 2012. Abdulai Sila critica o estado actual do país. "A Guiné-Bissau tem vivido de transição em transição e acaba por não ser transição nenhuma", diz o escritor.

"Essa é a grande realidade. Desde 74 que vivemos uma transição a seguir à outra e o facto é que todas essas transições juntas, até agora, não mostraram o caminho certo a seguir", afirma ainda Abdulai Sila, concluindo que "depois de tanta asneira, chegámos a um momento em que, definitivamente, temos que enterrar o machado de guerra e seguir os novos ventos que estão a soprar".

"Uma alegoria da Guiné-Bissau", segundo Odete Semedo

A apresentação da nova comédia escrita para teatro aconteceu na passada semana em Bissau. A poetisa guineense Odete Semedo esteve presente e, em entrevista à DW África, considera que "Dois tiros e uma gargalhada" é uma reflexão de dentro para dentro.

"É um texto muito comprometido com a história da Guiné-Bissau, com a nossa política", começa por dizer a poetisa. "É uma tese sobre o teatro, que tem um fundo muito pedagógico. Para além da crítica que se lê nas entrelinhas, nas falas das personagens, podem-se ler também alguns ensinamentos".

"Abdulai Sila faz uma leitura de Amílcar Cabral, revisita José Carlos Schwarz, em algumas canções dele e renova essas canções, adequando-as às situação criada no texto", descreve Odete Semedo.

As reflexões individual e colectiva são, para Odete Semedo, a grande lição do livro. "Chama a atenção de todos os guineenses para olharem para o país que temos, para reconstruírem esse país, para se unirem em torno do país e pô-lo em primeiro lugar", considera. Apesar de ser uma obra de ficção, a poetisa guineense chega a dizer que o livro é uma espécie de alegoria da Guiné-Bissau.

"Dois tiros e uma gargalhada" para pensar o poder

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