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Domingos Simões Pereira toma posse como primeiro-ministro da Guiné-Bissau

António Rocha3 de julho de 2014

Novo Governo suscita esperança de estabilidade. Vincent Foucher, analista do ICG, afirma que muitos guineenses, incluindo militares, consideram que golpes de Estado são problemáticos e pedem outras soluções.

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Foto: DW

O presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, empossou esta quinta-feira (3.07) Domingos Simões Pereira como primeiro-ministro e pediu-lhe para tirar o país "da letargia em que se encontra", conforme "é a vontade do povo". Numa cerimónia no Palácio da Presidência, José Mário Vaz fez um discurso breve no qual desejou "boa sorte" ao novo primeiro-ministro, com quem se disponibilizou para cooperar.

O novo primeiro-ministro guineense diz ser conhecedor da "situação de dificuldade" em que o país se encontra e também da responsabilidade que é ser chefe do governo. "A partir de hoje começa a tocar, no sentido regressivo, o relógio para num período de quatro anos mudarmos a sorte e o destino desta Nação", observou Simões Pereira.

O novo elenco governamental guineense suscita grandes esperanças quanto à estabilidade de um país fustigado por repetidos golpes de Estado e “existe um verdadeiro motivo para essa esperança”, de acordo com Vincent Foucher, pesquisador do International Crisis Group (ICG). Mas nem todas as dificuldades foram ultrapassadas na Guiné-Bissau, ressalva o investigador.

População condena golpe militar

“Houve uma eleição com uma participação extremamente importante, 88% na primeira volta e 70% na segunda volta, com uma tomada de posição popular muito clara: o regresso do PAIGC, que venceu as duas eleições de maneira indiscutível, o que, no fundo, foi uma forma de a população dizer que o golpe militar de 2012 foi inaceitável”, justifica o investigador. Foucher conclui que, “deste ponto de vista, é encorajador que os guineenses tenham dito, na sua grande maioria, que o Estado militar deve terminar”.

Guinea-Bissau Wahlen 2014 Sieger Jose Mario Vaz
José Mário Vaz, Presidente da Guiné-BissauFoto: picture alliance/Photoshot

Ainda assim, Vincent Foucher lembra que existem “problemas de fundo” no país, exemplificando com “uma economia muito frágil, baseada no clientelismo”. “É isso que explica o caráter um pouco desesperado e violento da luta política”, afirma, acrescentando que “no fundo, pequenos grupos da elite político-militar disputam as parcelas do Estado e isso é ainda muito presente”. Para o pesquisador, “tudo dependerá da forma como o novo Governo vai gerir os equilíbrios político-económicos. Essa gestão será decisiva”.

Mudanças e novas soluções

Para o pesquisador da ICG, existe uma situação muito interessante na Guiné-Bissau porque se sabe agora que muitas pessoas - incluindo algumas do exército - começam a pensar que os golpes de Estado são problemáticos e que, portanto, devem ser encontradas outras soluções.

“Há um novo regime que é do PAIGC, que prometeu trabalhar de forma inclusiva, dando um espaço à oposição, em particular ao PRS, o principal partido da oposição”, explica. Vincent Foucher sublinha ainda a adoção de “um tom muito moderado” por parte do PRS, “que tenta sair um pouco do seu cerco na comunidade balanta e, assim, alargar o seu espaço político”. “Finalmente”, afirma o investigador, “há os parceiros internacionais, que estão menos divididos do que no passado”. “Grandes parceiros e doadores como o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento estão interessados em levar a cabo coisas novas na Guiné-Bissau”, exemplifica.

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A importância da autonomia política

Vários analistas têm afirmado que o novo Governo instalado em Bissau terá um período de um a um ano e meio para “arrumar a casa”. Segundo o especialista do ICG, a legitimidade dos novos governantes parece ser suficientemente sólida para “trabalhar bem” do ponto de vista das políticas públicas e da boa governação. Vicent Foucher espera que o novo Executivo faça avançar o país. Para tal, o Governo liderado por Domingo Simões deverá, segundo o pesquisador, “adquirir autonomia política suficiente para poder resistir às ameaças de atores políticos que possam ser tentados a regressar a uma solução do tipo violento.

Vicente Foucher sublinha,contudo, que persistem alguns problemas de fundo na Guiné-Bissau, nomeadamente a extrema pobreza, a fragilidade da economia, uma cultura política de redes de influência, conspiração e manipulações e tudo isso é uma pesada herança do passado recente com a qual o novo regime terá de trabalhar.

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