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Dívidas ocultas: "Não discutimos a criação da EMATUM"

10 de fevereiro de 2022

Ex-ministro do Interior, Alberto Mondlane, diz que, nas reuniões do Comando Conjunto, nunca se falou da empresa Privinvest, acusada do pagamento de subornos. E nunca se terá discutido a criação da EMATUM e da MAM.

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Foto: Roberto Paquete/DW

Alberto Mondlane disse esta quinta-feira (10.02) em tribunal que "a segurança foi capturada pelo inimigo". O antigo ministro do Interior acusou a Privinvest e os seus gestores de terem endividado o país em 2,2 mil milhões de dólares.

Mondlane, que falava como declarante no julgamento das "dívidas ocultas", disse que, em nenhum momento, o Comando Conjunto e o Comando Operativo falaram sobre a Privinvest, acusada do pagamento de subornos.

"Não falámos da Privinvest, de Jean Boustani [negociador], de Iskandar Safa [dono da empresa],. Não falámos destas coisas. Não falámos de aumentar as dívidas", afirmou.

O declarante adiantou ainda que a criação das empresas EMATUM e Mozambique Asset Management (MAM), ambas envolvidas no escândalo das "dívidas ocultas", nunca foi discutida nos dois órgãos. "Nunca discutimos esses assuntos no comando operativo", asseverou.

Veja imagens da audição de Ndambi Guebuza

"Segurança não cumpriu o seu dever"

O depoimento de Alberto Mondlane, esta quinta-feira, vai em contramão com as declarações do arguido Gregório Leão, em setembro passado, que afirmou que a decisão de criar as empresas teria sido tomada pelo Comando Conjunto.

Em tribunal, o declarante disse ainda não entender como as Forças de Defesa e Segurança foram contrair uma dívida de 2,2 mil milhões de dólares. "Nunca imaginei que um Jean Boustani pudesse aqui andar a distribuir dinheiro, como estamos a acompanhar. Eu acho que o setor da segurança não cumpriu com rigor o seu dever de proteger o Estado, o povo, o Governo, e hoje estou aqui por causa disso", referiu Alberto Mondlane.

O juiz da causa, Efigénio Baptista, quis saber do antigo ministro se ele teria recebido algum material resultante do investimento de 500 milhões de dólares da criação da EMATUM. Mondlane respondeu: "Que eu tenha conhecimento, o Ministério do Interior ,onde eu era dirigente, não recebeu nenhum tipo de material, nem dinheiro nem qualquer outro tipo de material.

Mosambik | Efigénio Baptista und Ana Sheila Marrengula
Juiz do caso das dívidas ocultas, Efigénio Baptista, e magistrada do Ministério Público Ana Sheila MarrengulaFoto: Romeu da Silva/DW

"Recordo, sim, que o senhor Carlos do Rosário [arguido no caso e então diretor da Inteligência Económica do Serviço de Informações e Segurança do Estado] apareceu na minha casa com uma viatura, e perguntei para quê essa viatura e respondeu que era para andar. É o único objeto da ProIndicus com que tive contacto".

A ProIndicus foi - em conjunto com a EMATUM e MAM - uma das empresas que contraiu as chamadas "dívidas ocultas".

Polémica após expulsão de advogados

Esta semana, o juiz Efigénio Batista manteve a decisão de expulsar dois advogados do réu Renato Matusse, por alegado desrespeito ao tribunal, e deu-lhe cinco dias para encontrar um novo representante.

Mas Renato Matusse disse esta quinta-feira em tribunal que gostaria de acompanhar o depoimento de Alberto Mondlane com o seu advogado. A Ordem dos Advogados pediu, por isso, a interrupção da audiência. No entanto, o juiz afirmou que o pedido não tinha cabimento: Não sei como o réu Renato Matusse vê a conexão entre Alberto Mondlane e o senhor. Por outro lado, várias vezes os seus ilustres mandatários nunca apareciam aqui", rematou.

Na sexta-feira (11.02), o Tribunal Judicial de Maputo vai ouvir o ministro das Finanças Adriano Maleiane na reta final da audição de declarantes.

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