Nilo: Negociações sobre barragem retomadas esta semana
14 de junho de 2020A construção da Grande Barragem do Renascimento, pela Etiópia, no rio Nilo Azul, com um custo de cerca de quatro mil milhões de euros, está concluída em mais de 70% e pretende fornecer energia elétrica aos 100 milhões de habitantes da Etiópia, mas tem sido uma questão fraturante entre os três principais países da bacia do maior rio africano.
Os três países não conseguem chegar a um acordo através das diversas conversações mantidas ao longo dos últimos anos, que sofreram uma interrupção inesperada, em fevereiro, quando a Etiópia rejeitou uma proposta elaborada pelos Estados Unidos e acusou a administração de Donald Trump de tomar partido pelo Egito.
Acusações
Ainda este sábado (13.06), o ministro dos Recursos Hídricos do Egito, Mohammed el-Sebaei, acusou a Etiópia de complicar as negociações com uma nova proposta que considerou "preocupante" por pretender "descartar todos os acordos e entendimentos alcançados pelos três países ao longo de cerca de uma década".
Declarações que já mereceram uma resposta por parte da Etiópia. Em comunicado, este domingo (14.06), o governo etíope descreveu os comentários do Cairo como "infelizes", e exortou a uma negociação baseada na "boa fé" e na "transparência".
"Qualquer tentativa de enganar a comunidade internacional ou de fazer campanha para pressionar a Etiópia a aceitar tratados de base colonial, limitando o seu legítimo direito de utilizar o Nilo [...], é inaceitável", afirmou hoje em comunicado o Ministério da Água, Rega e Energia etíope.
A Etiópia pretende começar a encher o reservatório da barragem durante as próximas semanas, mas o Egito mostra-se preocupado que o enchimento precoce da reserva possa causar uma redução na quantidade de água do Nilo disponível neste país.
Na semana passada, o Egito exortou a Etiópia a "declarar com clareza que não tem intenção de encher a barragem unilateralmente" e que o acordo preparado em fevereiro pelos Estados Unidos e pelo Banco Mundial servirá de ponto de partida para as negociações futuras.
O impasse sobre a questão da barragem agudizou-se nos últimos meses, com o Egito a declarar que irá utilizar "todos os meios disponíveis" para defender "os interesses" do seu povo, enquanto o chefe das forças armadas etíopes afirmou, sexta-feira, que o país defenderá a sua posição com todas as forças e não negoceia a sua soberania sobre a barragem.
Após meses de impasse, os ministros dos Recursos Hídricos de Sudão, Egito e Etiópia retomaram conversações na última semana, sob a 'vigilância' de observadores dos Estados Unidos, União Europeia e África do Sul, que preside, neste momento, à União Africana.