Vitória social-democrata na Alemanha
27 de setembro de 2021O Partido Social-Democrata (SPD) conseguiu vencer votação deste domingo (26.09) na Alemanha com uma pequena vantagem sobre a união dos dois partidos conservadores, a União Democrata-Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU).
A votação entra para a história, uma vez que definirá quem será o novo chanceler alemão, que assume o lugar de Angela Merkel. Mas também porque os resultados são os piores já conquistados até agora pela CDU, partido da própria Merkel.
Desde o início da noite eleitoral, as projeções apontavam os sociais-democratas do SPD na liderança, com alguns ganhos em comparação com o último pleito de 2017 e mais de 25% dos votos, seguido pelos conservadores da CDU, com cerca de 24%. Depois vem os Verdes que conquistam o terceiro lugar, com fortes ganhos e cerca de 14%.
O resultado final provisório publicado na madrugada da segunda-feira:
- SPD em primeiro lugar, com 25,7% (+5,2%) e 168 deputados
- CDU/CSU em segundo lugar com 24,1% (-8,9%) e 158 deputados
- Os Verdes em terceiro lugar com 14,8% (+5,8%) e 97 deputados
- FDP, o partido liberal, em quarto lugar com 11,5% (+0,7%) e 75 deputados
- AfD, a extrema-direita, em quinto lugar com 10,3% (-2,3%) e 67 deputados
- A Esquerda em sexto lugar com 4,9% (-4,3%) e 32 deputados
Também foi eleito um deputado pelo partido da minoria dinamarquesa SSW (Südschleswigscher Wählerverband). Este partido é isento da barreira dos cinco por cento normalmente em vigor na Alemanha e volta ao Bundestag, o parlamento da Alemanha, depois de muitas décadas sem representação a nível federal.
Com um total de 735 deputados, o próximo parlamento será o maior da história da Alemanha. Na legislatura passada, tinha fracassada uma reforma para diminuir o alto número dos parlamentares, que é resultado do complexo sistema eleitoral na Alemanha.
"SPD tem mandato para formar uma coligação"
O candidato a chanceler do SPD, Olaf Scholz, falou de "uma grande vitória nesta noite eleitoral longa". Disse que os cidadãos querem que ele seja o novo chanceler.
O Secretário-Geral do Partido Social Democrata (SPD), Lars Klingbeil, reagiu logo após os primeiros dados preliminares divulgados pela pesquisa à boca de urna e disse que o seu partido tem um mandato claro para formar uma coligação.
"O SPD tem o mandato de governar. Queremos que Olaf Scholz seja chanceler", disse Klingbeil.
"Sempre soubemos que seria uma corrida renhida. Sabíamos que seria uma campanha eleitoral renhida", disse Klingbeil à emissora pública ZDF. Klingbeil chamou um "sucesso louco" ao SPD, dizendo que estava muito contente.
Resultados "amargos" para a CDU
O secretário-geral da CDU manifestou o seu desapontamento com os resultados das sondagens à boca das urnas. "As perdas são amargas em comparação com as últimas eleições" em 2017, quando a CDU/CSU obteve mais de 30%, disse Paul Ziemiak à imprensa.
Ziemiak mostrou confiança ao dizer que a CDU ainda esperava liderar uma coligação que incluísse os Verdes e o FDP.
O líder do CDU/CSU, Armin Laschet, também manifestou o seu desejo de formar uma coligação com os Verdes e o partido liberal FDP. "Quero liderar uma coligação do futuro", disse Laschet quando se apresentou aos membros do seu partido em Berlim. Esteve rodeado de muitos políticos do seu partido, como a chanceler Angela Merkel.
Apesar de ganhos, os Verdes estão desapontados
A candidata a chanceler dos Verdes, Annalena Baerbock, elogiou o desempenho do seu partido como o seu "melhor resultado da história" num discurso aos seus apoiantes em Berlim. O resultado preliminar de cerca de 14% está bem à frente do seu melhor resultado anterior de 10,7% em 2009.
"Concorremos pela primeira vez para moldar este país como uma força líder", disse Baerbock. A certa altura, durante a campanha, o partido chegou a liderar as pesquisas com quase o dobro dos resultados atuais. "Queríamos mais", admitiu, mas disse que isso não resultou devido aos erros do partido e aos seus erros. "Este país precisa de um Governo climático", salientou Baerbock: "É isso que continuamos a lutar".
A candidata principal dos Verdes salientou que no voto dos jovens alemães o seu partido ficou em primeiro lugar. "Trata-se de uma questão de justiça entre gerações", disse Annalena Baerbock, que se mostrou aberta a iniciar conversas com os liberais sobre possíveis coligações.
"Fizemos ganhos significativos, mas é difícil para mim estar realmente satisfeito com estes ganhos", disse o secretário-geral do partido Michael Kellner, citado pela agência noticiosa DPA, avançando que o partido tem uma clara preferência por uma coligação com o SPD.
Liberais e Verdes provavelmente decidem futuro chanceler
O partido liberal ficou em quarto lugar atrás dos Verdes e conseguiu consolidar os resultados de dois dígitos com uma campanha focada no tema de reformas da tributação (menos impostos) e da digitalização.
Christian Lindner, o líder dos liberais (FDP), disse que seria favorável uma coligação liderada pelo CDU/CSU juntamente com os Verdes. "Acho que a probabilidade de colocarmos a nossa política em prática é maior nesta constelação. Há uma ala de esquerda muito forte no SPD". Pelas cores dos três partidos participantes, que lembram a bandeira de um país caribenho, esta coligação também é designada como "Jamaica".
Mas Lindner também fez questão de não excluir uma coligação liderada pelo SPD com os Verdes. Esta coligação chama-se "Ampel" (semáforo, em alemão) pelas cores vermelho (SPD), amarelo (FDP) e verde. Lindner convidou os Verdes a iniciar conversas entre os dois partidos para sondar possíveis pontos em comum, antes de negociar com o SPD e/ou o CDU/CSU.
Sabe-se que os Verdes têm uma preferência forte por uma coligação liderada pelo SPD, já que pensam que este partido possibilitará mais medidas a favor do meio ambiente e uma política social mais interventiva.
A nível dos estados da Alemanha, há exemplos para as duas coligações. Em Schleswig-Holstein, no norte do país, governa uma coligação entre o CDU, os Verdes e o FDP com sucesso. Robert Habeck, um dos dois líderes dos Verdes, já foi ministro nesta coligação. Na Renânia-Palatinado, no oeste da Alemanha, governa uma coligação entre o SPD, os Verdes e o FDP, que já conseguiu ser reeleita em março deste ano. O secretário-geral nacional do FDP, Volker Wissing, é tido como um dos arquitetos desta coligação.
Outras opções de coligação não são possíveis ou improváveis
Uma coligação à esquerda entre o SPD, os Verdes e a Esquerda não seria possível, já que não têm a maioria dos deputados necessária para eleger o chanceler.
Uma reedição da "grande coligação" entre o CDU/CSU e o SPD, que governou durante os últimos anos sob liderança de Angela Merkel, teria uma maioria dos deputados. Mas como nenhum dos dois grandes partidos gostaria de repetir esta coligação, ela não é muito provável.
Dadas as previsões, reunir o próximo Governo de coligação para a maior economia da Europa pode ser um longo e complicado processo de negociações. Na Alemanha, o partido que termina em primeiro lugar está mais bem colocado, mas não garantido, para formar o novo Governo. Por isso, Angela Merkel permanecerá como líder até que os partidos estabeleçam uma nova coligação entre si e um novo Governo esteja em funções. No noite eleitoral, alguns políticos disseram que gostariam de poder apresentar o novo Governo até o Natal.
Direita populista e Esquerda perdem apoio
Os resultados deste domingo revelam que a Alternativa para a Alemanha (AfD) perdeu apoio nas eleições deste domingo, em comparação à votação de há quatro anos. O partido, conhecido pelo seu discurso populista, não conseguiu colocar na agenda destas eleições a sua questão central: a migração. Apesar das perdas, o co-líder do partido Tino Chrupalla disse estar "muito satisfeito" com o resultado e congratulou-se com as pesadas perdas para o bloco da chanceler Angela Merkel.
"Temos uma base eleitoral central que consolidámos", disse Chrupalla, acrescentando que o objetivo dos partidos tradicionais de empurrar a AfD para fora do Bundestag tinha falhado.
No outro lado do espectro político, a Esquerda também perdeu votos. O partido ficou reduzido à quase metade dos votos e até ficou abaixo da barreira do cinco por cento. Somente porque elegeu três deputados diretamente em círculos eleitorais de Berlim e Leipzig consegue formar mais uma vez um grupo parlamentar. A lei eleitoral prevê no caso de pelo me nos três mandatos diretos uma exeção da barreira dos cinco por cento.
O seu líder Dietmar Bartsch culpou as querelas constantes no partido pelo mau resultado. “Não podemos continuar assim”, disse.
Eleições estaduais: social-democratas ganham em Berlim e em Meclemburgo-Pomerânia Ocidental
Em paralelo à votação nacional, houve eleições estaduais em dois estados. Ambos foram ganhos pelo partido social-democrata SPD. Em Berlim, os Verdes conseguiram um resultado inesperado e durante algumas horas desta noite eleitoral, até pareciam como possíveis vencedores. A CDU sofreu o seu pior resultado de sempre na capital. É provável que a candidata principal do SPD, Franziska Giffey, será próxima primeira-ministra estadual de Berlim. Ela pode continuar a coligação atual entre o SPD e os Verdes e a Esquerda ou formar várias outras coligações.
As eleições em Berlim foram marcadas por problemas de organização. Houve longas filas e em vários locais de votação, os boletins esgotaram durante à tarde. Boletins foram trocados entre vários distritos e tiveram que ser substituídos. Em alguns lugares, a votação apenas terminou mais de uma hora após o fecho oficial das urnas.
No estado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, no nordeste da Alemanha, as eleições correram sem sobressaltos. Neste caso, a vitória foi clara. O SPD ficou em primeiro lugar à grande distância do segundo partido, o AfD da direita populista. A CDU teve outro resultado desastroso e ficou apenas em terceiro lugar. Manuela Schwesig, do SPD, deve continuar como primeira-ministra. E pode formar várias coligações com a Esquerda, os Verdes e/ou o FDP.