Eleições na Nigéria: O perigo de votar de telemóvel em punho
26 de fevereiro de 2019Às vezes, uma imagem pode mentir. Os vídeos e fotografias feitos nas urnas podem ser manipulados, usados fora de contexto e gerar "fake news" - notícias falsas, que podem catapultar sentimentos de descontentamento na população.
Dois dias depois das eleições gerais na Nigéria, Hailemariam Desalegn, ex-primeiro-ministro da Etiópia e chefe da missão de observação eleitoral da União Africana, pediu aos "nigerianos e outros atores" para "usarem as redes sociais de forma responsável e não espalharem informações falsas sobre as eleições e especialmente sobre os resultados, para que possam fortalecer a democracia da Nigéria".
O pedido surge num momento em que já circulam milhares de "tweets" com "hashtags" dando conta da vitória do Presidente cessante, Muhammadu Buhari (#BuhariIsWinning) e do seu rival Atiku Abubakar, (#AtikuIsWinning). Além do Twitter, também no Facebook e em grupos do WhatsApp partilham-se fotos e vídeos de protestos e alegadas irregularidades no dia das eleições - informações que, na maioria das vezes, não podem ser verificadas.
Notícias falsas podem agravar tensões
Além da União Africana, outras missões de observação falam da grande influência das redes sociais nestas eleições. A maioria faz uma avaliação negativa.
Derek Mitchell, presidente do Instituto Nacional Democrático, em Washington, que enviou 20 equipas de observadores para 16 estados da Nigéria juntamente com o Instituto Internacional Republicano, diz que "as novas tecnologias são avassaladoras, 'fake news' incluídas".
"É difícil acompanhar as novas tecnologias. Precisamos do apoio de quem as criou e as percebe melhor", sublinha.
No relatório de análise às eleições, Mitchell cita "receios credíveis de que as 'fake news' em circulação possam agravar as tensões" no país.
O bom e o mau
Esta intensa partilha de informação também se explica pelo grande aumento do número de utilizadores.
Em agosto de 2018, a Comissão de Comunicações da Nigéria falava em mais de 104 milhões de pessoas - mais de metade da população - com acesso à internet no país.
Por um lado, o telemóvel aumentou a transparência das eleições: "As pessoas usaram os telemóveis para expor irregularidades. Os telemóveis melhoram o processo eleitoral", diz Samson Itodo, da organização não-governamental Yiaga Africa, que colocou cerca de 4 mil observadores um pouco por todo o país.
Mas há também um lado negativo: "notícias falsas e disseminação de resultados falsos", refere.
Ebele Oputa conhece bem esta realidade. É editora de projetos da página dubawa.org, que pertence ao Centro Investigativo do jornal online "Premium Times" e verifica notícias das redes sociais.
Os smartphones, afirma, podem trazer mais transparência aos processos eleitorais, mas é preciso ter alguns cuidados.
"Independentemente de quem filma ou partilha, é preciso incluir algumas informações: quando e onde é que isto se passou, exactamente. Assim, as outras pessoas não vão poder utilizar este vídeo para promover a violência num outro local", diz Oputa.
Entretanto, os primeiros resultados oficiais das presidenciais de sábado (23.02) divulgados pela Comissão Eleitoral colocam o Presidente cessante, Muhammadu Buhari, na liderança, com a vitória em sete dos 36 estados nigerianos.
O partido do seu principal rival, Atiku Abubakar, rejeita, no entanto, estes números, classificando-os como "incorrectos e inaceitáveis".