Donald Trump e Joe Biden enfrentam-se em debate conflituoso
30 de setembro de 2020No debate que marcou o primeiro encontro estre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos, na noite desta terça-feira (29.09), o Presidente Donald Trump, que busca a reeleição, disse que o vencedor das presidenciais, marcadas para 3 de novembro, poderá não ser conhecido "durante meses" por causa do voto por correspondência.
"Insto o meu povo, espero que seja uma eleição justa, se for uma eleição justa, estou 100% a favor, mas sedezenas de milhares de votos forem manipulados, não posso concordar com isso", afirmou Trump, apotando supostas fraudes nas eleições norte-americanas.
"É uma fraude e uma vergonha", acusou o Presidente e candidato republicano, colocando em causa a integridade das eleições, que terão um número sem precedentes de votos por correspondência por causa da pandemia de Covid-19, apesar de não haver evidências de que esta forma de voto conduz a fraude.
Na réplica, o candidato democrata Joe Biden afastou a ideia de que o voto por correspondência possa ser fraudulento. "Ele não tem ideia do que está a falar. O facto é que o aceitarei (os resultados), e ele também o fará. Sabe porquê? Porque assim que o vencedor for declarado, depois de todos os votos serem contados, todos os votos terão sido contados. E esse será o fim da contagem".
"Se eu for [o vencedor], tudo bem. Se não for, apoiarei o resultado. E eu serei um Presidente não só para os democratas, serei um Presidente para os democratas e republicanos", defendeu Biden, que lembrou que ue há cinco estados norte-americanos (Colorado, Havai, Oregon, Utah e Washington), alguns dos quais de maioria republicana, onde os boletins de voto são automaticamente enviados para todos os eleitores há vários anos sem registo de problemas.
Recuperação económica
Durante o debate foram abordados os temas mais quentes da campanha, incluindo o estado da economia e a Covid-19. O candidato democrata Joe Biden defendeu que a recessão económica nos Estados Unidos não será debelada enquanto a pandemia continuar fora de controlo.
"Não se pode recuperar a economia enquanto não se resolver a crise de Covid", disse Joe Biden, que acusou o Presidente Donald Trump de saber desde fevereiro que a Covid-19 era muito perigosa e de ter escondido essa informação do público norte-americano, porque "entrou em pânico" e não queria prejudicar os mercados financeiros.
"Ele continua a não ter um plano", acusou, contrapondo que a sua estratégia é detalhada e inclui financiar os equipamentos de proteção necessários para reabrir estabelecimentos comerciais e escolas em segurança.
Donald Trump defendeu a sua reação à pandemia, dizendo que "a culpa foi da China" e que salvou milhares de vidas ao interditar a entrada a nacionais do país onde o surto começou. "Os governadores dizem que eu fiz um trabalho fenomenal", afirmou o Presidente norte-americano, garantindo que se está "a semanas de uma vacina".
Todavia, o moderador Chris Wallace confrontou o Presidente com as perspetivas de dois dos responsáveis clínicos da sua administração, que apontam para um calendário mais distante de distribuição em massa da vacina, em meados de 2021. "Discordo de ambos", disse Trump, referindo-se a Moncef Slaoui, diretor do programa governamental para a vacina "Operation Warp Speed", e Robert Redfield, diretor do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças.
Impostos de Trump
Outro assunto polémico abordado na noite desta terça-feira no debate em Cleveland, no estado de Ohio, foi sobre o pagamento de impostos pelo Presidente Donald Trump, após uma investigação do jornal norte-americano The New York Times ter concluído que o Presidente norte-americano pagou apenas 750 dólares por ano desde o início da sua presidência.
"Paguei milhões em impostos sobre o rendimento", afirmou Trump, respondendo a uma questão do moderador do debate, Chris Wallace. "Vocês vão ver", disse o Presidente, sobre as declarações de impostos que até agora não divulgou porque, segundo diz, estão sob auditoria. O Presidente dos EUA não se comprometeu, todavia, à revelação das suas declarações de impostos.
Joe Biden, o oponente democrata, acusou Trump de pagar muito pouco, "apenas 750 dólares" de impostos federais sobre o rendimento e de ter criado uma economia que funciona para milionários.
"O código fiscal colocou-o na posição de pagar menos impostos que um professor", criticou Biden, declarando que, se for eleito Presidente, vai voltar a subir a taxa de imposto às empresas para 28%. A subida, disse, resolverá o problema atual de haver grandes empresas que pagam pouco ou nada em impostos.
Supremacistas brancos
O racismo e a ação policial foram um dos episódios mais tensos da noite. O assunto é o centro das atenções nos Estados Unidos desde a morte de George Floyd pela polícia, em maio.
Trump recusou-se a condenar diretamente os grupos de supremacia branca quando questionado pelo moderador do debate e disse aos "Proud Boys” - um grupo de extrema direita - para "recuar e aguardar" no que os críticos dizem ser um alerta para a violência racial.
"Este não é um problema da direita, é um problema da esquerda", disse Donald Trump, que anteriormente foi criticado por não condenar os grupos de ódio da extrema direita.
O democrata, que mencionou a morte do afro-americano George Floyd, considerou que "há injustiça sistémica neste país" e que, embora a maioria dos polícias sejam bons, há "maçãs podres" que têm de ser responsabilizadas pelos seus atos.
Debate conflituoso
Numa instância, Biden disse ser "difícil responder a seja o que for com este palhaço" e afirmou que ele é "o pior Presidente que a América já teve". Noutras ocasiões, afirmou que Trump é "racista", "mentiroso", "fantoche de [Vladimir] Putin" e "sem conhecimento" do que diz. Donald Trump, por seu lado, colocou em causa a inteligência de Joe Biden, dizendo-lhe para não há "nada de esperto" no oponente democrata.
Neste primeiro debate, o moderador Chris Wallace, da Fox News, teve de intervir repetidamente para pedir a Donald Trump que deixasse Joe Biden falar, tendo acontecido com frequência o Presidente norte-americano falar por cima do oponente de forma agressiva. Joe Biden, numa das situações em que Donald Trump o interrompeu, retorquiu algo que pode ser traduzido como "vais-te calar, homem?".
Trump lançou ainda várias acusações de corrupção e vício de drogas ao filho de Joe Biden, Hunter Biden, que o democrata defendeu vigorosamente, dizendo que "não fez nada de errado" e que "tem orgulho" nele.
Estão marcados mais dois debates, sendo que a acrimónia desta noite levou alguns comentadores da CNN, estação que transmitiu o debate, a questionar se Joe Biden deverá ou não continuar com o plano de voltar a estar em palco com Trump. O próximo debate do ciclo eleitoral será entre os candidatos a vice-presidente, Mike Pence (republicanos) e Kamala Harris (democratas), a 7 de outubro.