Eleitores indiferentes a final da campanha em Angola
27 de agosto de 2012
Angola entra esta segunda-feira (27.08) na última semana da campanha eleitoral, após um fim-de-semana em que Isaías Samakuva, líder da UNITA, principal partido da oposição, disse estar disponível para adiar as eleições em uma semana ou um mês para garantir o cumprimento da Lei Eleitoral. Samakuva pronunciou a ideia do partido no sábado (25.08), dia em que a UNITA realizou protesto em Luanda contra a forma como a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) está a organizar o escrutínio.
Ouvido sobre o assunto, o analista político angolano Rafael Marques disse em entrevista à DW África que a atmosfera de dúvidas sobre a lisura das eleições gerais, marcadas para sexta-feira (31.08), acaba refletindo negativamente no interesse da população em participar do escrutínio.
DW África: Depois da manifestação da UNITA, no sábado (25.08), como está a atmosfera em Luanda neste início da semana que antecede as eleições?
Rafael Marques: Para grande parte da população, esse período de reta final da campanha está a ser visto com grande indiferença porque o modo como o processo eleitoral foi organizado prenuncia que o MPLA terá o resultado que desejar, o resultado que achar conveniente para si e [que] pouco ou nada terá a ver com o desejo dos eleitores.
A manifestação realizada pela UNITA [maior partido da oposição] para pedir eleições transparentes já é demasiado tardia porque, a dias da realização das eleições não há como corrigir todos os males feitos durante a preparação das eleições porque, por exemplo, dos nove milhões de eleitores registados, e a auditoria feita aos ficheiros do registo eleitoral terá conta que seis milhões de eleitores não podem ter a sua identidade autenticada. Não se pode confirmar a identidade de seis milhões de eleitores.
Por outro lado, as administrações municipais sob controlo do MPLA conservam mais de 1,5 milhões cartões eleitorais – o que significa que estes cartões e estes votos poderão ser usados. E isso, já à partida, dá ao MPLA 1,5 milhões de eleitores – estamos a falar de cerca de 18% do eleitorado.
DW África: Alguma coisa pode surpreender nessa reta final de campanha?
RM: O único partido com capacidade para realizar manifestações em larga escala em Angola é a UNITA, os outros partidos não têm essa capacidade. Daqui para diante, é esperar os resultados eleitorais. A partir do anúncio dos resultados é que começarão a haver reações por parte da sociedade.
DW África: Existe uma certa desorganização por parte da oposição para prever alguns problemas, tanto durante a campanha eleitoral quanto durante o pleito?
RM: A oposição não é desorganizada. A oposição é perpassada por uma incompetência crónica. Há um problema muito sério de falta de lideranças por parte da oposição, capazes de tomar a peito situações demasiado sensíveis. Isso exige muita coragem. De fato não há aqui uma oposição que seja capaz de assumir um discurso efetivo junto da sociedade e com capacidade de mobilização para travar esses atos.
DW África: Sobre a questão da intimidação e da violência durante esses últimos sete dias de campanha: há alguma precaução ou existe alguma perspectiva de que isso aconteça novamente?
RM: Esta violência é real, está a acontecer, envolve forças policiais, envolve milícias, envolve militantes do MPLA, militantes da UNITA – e é uma situação que eu diria que é mais de indignação do que de medo porque, nos últimos anos, as pessoas têm estado a perder o medo. E é preciso sublinhar isso.
Autor: Marcio Pessôa
Edição: Renate Krieger/António Rocha