Campanha eleitoral moçambicana a meio gás em Portugal
26 de setembro de 2019É a primeira vez que o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) faz campanha em Portugal, onde, apesar das limitações, tem dado a conhecer os objetivos da formação política liderada por Daviz Simango.
O terceiro maior partido da oposição moçambicana tem defendido junto dos eleitores a pretensão de contrariar a hegemonia da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), há mais de 40 anos à frente da governação do país, segundo afirmações de Miguel Arcanjo Dinis Chuluma, representante do MDM instalado em Lisboa desde 2016.
"Queremos que o eleitor nos dê a oportunidade de demonstrar aquilo que devia ser em termos de governação para que a situação não permaneça como permaneceu desde 1975 a 1992, altura dos acordos de paz," defende.
O partido também é contra os poderes excessivos do Presidente moçabicano, Filipe Nyusi, nas áreas da governação.
"O Presidente da República não pode ir, por exemplo, à inauguração de um poste de eletricidade, tendo o ministro da Energia. O Presidente da República não pode, achamos nós, chegar a um posto de saúde a dizer que isto deve ser desta forma, tendo o ministro da Saúde. O Presidente da República não pode nomear os magistrados, porque tem o ministro da Justiça," critica Chuluma.
Estas são algumas das propostas que o MDM tem transmitido aos eleitores moçambicanos em Portugal.
Entretanto, o delegado do partido, diz que "é muito complicado" fazer campanha em território português, pela dispersão dos moçambicanos e dificuldades de mobilidade.
"É um trabalho árduo, porque o tempo é escasso," reconhece. Mas, objetiva, o MDM quer eleger no círculo da Europa um deputado que se preocupa efetivamente com os problemas dos moçambicanos e apresentá-los à Assembleia da República.
"É a exigência do MDM encontrar um deputado que represente o círculo da Europa, que tenha um sítio [para] onde são canalizados os assuntos [que constituem] a preocupação da população residente no exterior," acrescenta o representante do partido.
Por outro lado, face aos anseios dos eleitores, Schuluma exorta o Estado moçambicano a não excluir os nacionais no exterior, tratando-os como cidadãos de segunda ou de terceira classe.
"Que tenhamos, de facto, aquilo que nos congrega como nacionais, que não nos sintamos marginalizados," conclui.
FRELIMO promete proteção e assistência
Ivone Sansão Bila é a candidata a deputada da Assembleia da República para o Círculo da Europa e resto do mundo, escolhida, em julho passado, pela Frente de Libertação de Moçambique. Ela aspira ser uma voz audível dos moçambicanos e tem propostas para tornar melhor a vida dos que emigram.
"Para a diáspora moçambicana, o Governo compromete-se aqui em tomar medidas de proteção e assistência, isto no que concerne à cooperação regional e internacional. Portanto, há aqui um incentivo ao associativismo, ao investimento, como forma de melhorar a situação económica, social e cultural dos moçambicanos," garante.
A também secretária da Organização da Mulher Moçambicana (OMM) em Coimbra quer promover o "orgulho de ser moçambicano" no exterior, e, entre outras propostas, cooperar com as instituições portuguesas, entre as quais os municípios, no sentido de implementar políticas de compromisso que beneficiem a comunidade moçambicana.
"Pretendo também pressionar o Governo a ratificar a Convenção da OIT [Organização Internacional do Trabalho] que passa pela questão do trabalho digno, olhando aqui para os nossos descendentes que nos leva à integração quantitativa e efetiva," acrescenta Ivone Sansão Bila.
A candidata da FRELIMO preconiza também trazer para Lisboa a primeira conferência anual da diáspora, que, sendo rotativa, deverá reunir conferencistas vindos dos vários países de circunscrição onde há comunidades moçambicanas, para debater problemas comuns e fomentar a confraternização.
RENAMO sem expressão em Portugal
Se estas duas formações se movimentam a velocidades diferentes, presentemente é quase uma incógnita a ação da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) em Portugal.
António Chichone, ex-representante da RENAMO em Portugal e resto do mundo, não fala em nome do partido.
Entretanto, pensa, em tom de crítica, que "quando os partidos almejam alcançar o poder – que é a ambição de todos os partidos – há que fazer essa demonstração de que estão interessados a alcançar o poder. E, para tal, deve-se demonstrar tanto no campo interno como no plano externo. Agora, um e outro pode estar mais interessado," pondera.
"O que eu vejo por aí é que há um partido que está mais empenhado a fazer campanha, para que realmente tenha êxito neste processo todo," avalia.
Chichone, que já foi candidato pelo círculo eleitoral da Europa (Portugal e Alemanha, em 2010 e 2014), conhece muito bem o perfil do eleitorado.
Diz que os partidos que querem ganhar o pleito "devem se fazer ao terreno" para sensibilizar os moçambicanos e mobilizar votos
"Há moçambicanos que não se sentem incluídos nalgumas atividades," lamenta.
Oficialmente, de acordo com o último recenseamento, estão inscritos em Portugal cerca de 1.819 eleitores, número inferior ao total dos moçambicanos radicados no país.
No próximo dia 15 de outubro, eleitores registados nos cadernos poderão votar em Lisboa, Évora, Beja, Faro, Portimão, Viseu, Coimbra, Leiria, Porto e Braga.