Eleições em Moçambique: Temas pouco falados pelos candidatos
27 de setembro de 2024Começa a contagem decrescente rumo ao 9 de outubro, dia em que tudo muda. Iniciará um novo ciclo governativo, com um novo Presidente, novos deputados e novos governadores. As expetativas dos moçambicanos são enormes: o povo já tornou bastante claro que quer mudanças.
Os jovens, que são a maioria da população moçambicana, sonham com um país diferente.
Quatro candidatos presidenciais, nomeadamente, Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Ossufo Momade, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Lutero Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), apresentam-se como "salvadores" da pátria.
Mas será que as suas promessas correspondem às expetativas? Reginaldo Tchambule acredita que não. O jornalista diz que "os candidatos pouco falam dos jovens", que, no seu entender, "vão determinar o vencedor das eleições".
O desemprego e a falta de habitação são algumas das demandas da juventude moçambicana. Mas Tchambule observa que "as propostas que estão a ser colocadas em cima da mesa pelos partidos políticos deixam muito a desejar."
"É como se todos os candidatos quisessem perpetuar um erro", refere.
Ernesto Júnior, jurista e analista político, diz que o combate à pobreza e a construção de estradas são alguns dos temas marginalizados pelos candidatos presidenciais.
"Como tirar o país do buraco em que se encontra tendo uma balança comercial negativa?", questiona Júnior. "Não basta dizer que vão combater a pobreza. Têm de mostrar quais os mecanismos que serão adotados para alavancar a economia, combater a pobreza e aumentar o rendimento per capita."
Agricultura ignorada?
Para Ernesto Júnior, faltam também nos discursos dos candidatos propostas concretas para a diversificação da economia. E a agricultura - um preceito constitucional - seria uma das áreas fundamentais genericamente "ignoradas" pelos candidatos.
"Não se falou muito da agricultura. Isso, para mim, é um grave erro político dos candidatos", sentencia o jurista.
O jornalista Reginaldo Tchambule tem uma explicação para isso. Diz que faltam "soluções para a agricultura", por isso "os candidatos não conseguem vender uma ideia concreta do que vai acontecer" com o setor.
Raptos ensombram próximo Governo
Moçambique vai a votos a 9 de outubro com um grande problema por resolver - os raptos. Na última década já houve muitas promessas para erradicar este mal, mas não há ainda uma solução definitiva.
A Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique diz que 150 empresários foram raptados nos últimos 12 anos; a polícia deteve quase 290 pessoas por suspeitas de envolvimento neste crime.
No último mês de campanha eleitoral, têm faltado ideias concretas aos candidatos presidenciais para acabar com este fenómeno - eles renovam apenas promessas vagas.
O jornalista Reginaldo Tchambule nota, entretanto, que se deixou de ouvir falar em raptos nas últimas semanas, "o que soa um pouco estranho."
Rotura ou continuidade?
Na reta final da caça ao voto em Moçambique, os quatro candidatos presidenciais vão, ainda assim, puxando os seus coelhos da "cartola".
O analista político Ernesto Júnior lamenta a falta de um debate público entre os candidatos, mas observa que, nestes últimos 30 dias de campanha, Ossufo Momade e Lutero Simango têm optado pela "forma tradicional" de fazer política, que se baseia em atacar os erros de governação dos últimos 49 anos "sem apresentar alternativas concretas".
O jornalista Reginaldo Tchambule vislumbra, mesmo assim, pontos positivos na atuação de Momade e Simango durante a campanha eleitoral. Explica que Momade trouxe uma nova forma de ser e estar na política, "com aquela vassoura sinalizando que é preciso limpar todos os males que afetam o nosso Estado. E Simango traz o manifesto mais inovador deste processo, em que apresenta a ideia de que é preciso reformar o Estado", sublinha o jornalista.
Tchambule entende, por outro lado, que Venâncio Mondlane, candidato suportado pelo PODEMOS, está a "conseguir explorar os erros" do partido no poder, a FRELIMO, apresentando-se como o "salvador" que traz "esperança no futuro".
Tchambule e Júnior são unânimes em considerar que Daniel Chapo, o candidato presidencial da FRELIMO, até iniciou bem a sua campanha eleitoral, tentando vender uma ideia de rotura com o passado. Mas nos últimos tempos, diz Júnior, "começou a mostrar uma disciplina partidária", de vontade de mudança na continuidade.