Eleições em Nampula marcadas por elevada abstenção e irregularidades
2 de dezembro de 2013
Numa assembleia de voto instalada junto à Escola Primária de Nahene 2, 800 eleitores deveriam ter votado. Destes, apenas 80 exerceram o seu direito de voto. O caso ilustra a fraca afluência às urnas na repetição das eleições para presidente do Conselho Municipal e membros da Assembleia Municipal da autarquia de Nampula, depois de, a 20 de novembro, quando Moçambique elegeu os autarcas para os 53 municípios, a não inclusão no boletim do voto, em Nampula, do nome de Filomena Mutoropa, ter provocado o adiamento da votação para este domingo, dia 1 de dezembro.
Apenas 20% dos eleitores da cidade terão participado nesta votação, o que leva a crer que, nestas eleições, Nampula deverá apresentar o maior nível de abstenção ao nível das 53 vilas e cidades municipais.
MDM lidera, segundo contagens paralelas
Segundo diversas contagens paralelas dos editais da votação, o MDM, terceiro partido da oposição em Moçambique, lidera a votação para o Conselho Municipal de Nampula.
Segundo esses resultados não oficiais, Mahamuno Amurane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), obteve, até ao momento, 54% dos votos, contra 40% do seu principal adversário, Adolfo Abbsalão Siueira, da FRELIMO, partido no poder, numa participação de 26%.
Os restantes votos estão divididos pelos candidatos Mário Albino, da ASSEMONA, e Filomena Mutoropa, do PAHUMO.
Na assembleia municipal de 45 lugares, o MDM terá 24 assentos, a FRELIMO 20 e o PAHUMO 1.
Os ultimos resultados provisórios publicados na página da rede social Facebook da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), há mais de 12 horas, indicam uma elevada abstenção. "Dados de 69 mesas de um total de 312 mesas: Adolfo Siueia da FRELIMO 40,56%, Mahamuno Amurane do MDM 54,52%, Filomena Mutoropa do PAHUMO 4,92% e Mario Albino da ASSEMONA 1,16%", pode ler-se nesta página.
Dupla votação, expulsões e detenções
Para além da elevada abstenção, há registos de dupla votação, sobretudo nas mesas de votação instaladas na periferia da cidade e expulsão de eleitores que queriam assistir ao processo de contagem dos votos. O delegado do MDM em Nampula, Rachad Carvalho, entrevistado pela DW África, referiu que muitos dos seus delegados de candidatura foram expulsos das mesas de voto por alegadamente possuírem credenciais do processo de 20 de Novembro.
Segundo o relato do Mozambique Political Process, publicação apoiada por eurodeputados, durante a votação foram presos dois vice-presidentes de assembleias de voto "surpreendidos a tentar introduzir nas urnas boletins de voto extras, já marcados para a FRELIMO e seu candidato".
A votação de ontem fica marcada também pela detenção de um presidente de mesa de voto, Hermínio da Silva Atumane, "que tentou votar com o cartão de eleitor emitido em Angoche e foi detido" e pela agressão de uma jornalista, pertencente à Rádio Índico, uma emissora do partido FRELIMO. A jornalista terá sido agredida por populares no posto de votação montado na escola Primaria Completa de Mutauanha, alegadamente por levar consigo boletins de voto pré-votados para favorecer o candidato da FRELIMO, Adolfo Absalão Siueia.
Manifestantes exigem divulgação dos resultados
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força política, já se assumiu vencedor das eleições realizadas em Nampula, com uma vantagem acima de 50 por cento para o seu candidato Mahamudo Amurado e o partido de Daviz Simango. Na tarde desta segunda-feira (02.12), o MDM organizou uma marcha que juntou centenas de populares dispostos a pressionar os órgãos eleitorais a divulgar os resultados.
A marcha foi encabeçada por jovens do MDM e vendedores de diferentes mercados da cidade de Nampula, que entoaram cânticos de vitória e exigiram a divulgação dos resultados deste domingo.
Em declarações à imprensa, o porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique, Sante Carmona, disse que o seu partido e candidato "são os vencedores das eleições com larga vantagem de 54% para o candidato e 52% para as Assembleias Municipais", contas feitas com base nos editais fixados nas locais de votação.
O porta-voz do MDM frisou ainda que o seu partido considera que o processo eleitoral ocorrido em Nampula "não foi livre, transparente e muito menos abrangente", por aquele órgão ter escolhido um domingo, para fragilizar o processo.