Elite política moçambicana prejudica EDM e os seus clientes, diz o CIP
12 de dezembro de 2014O Centro de Integridade Pública (CIP) revela na sua mais recente pesquisa que as elites políticas moçambicanas estão envolvidas em negócios de energia elétrica em Moçambique. O estudo diz ainda que as tarifas de energia de Moçambique são das mais altas da região austral de África, apesar do país ser um dos maiores produtores. E a fatura dessas irregularidades é paga pelo consumidor doméstico, enquanto o consumidor industrial paga menos. A DW África entrevistou o autor da pesquisa e colaborador do CIP, Borges Nhamire.
DW África: Quem tira vantagens destes paradoxos?
Borges Nhamiri (BN): A nossa entrega de distribuição de energia elétrica não tem capacidade e não tem credibilidade. E por isso, a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), aquando da reversão teve quer ir buscar um cliente credível que pudesse garantir a compra de eletricidade para pagar a dívida. E neste caso o cliente credível era a empresa sul-africana ESCOM. Não poderia ser uma de Moçambique. Então as coisas começam a partir daí a andar de forma torta. O resultado de tudo isso é que existem acordos comerciais rígidos, que nós desconhecemos o seu conteúdo, mas segundo dados não oficiais obrigam a HCB a vender energia à ESCOM até 2029 e enquanto isso a Eletricidade de Moçambique, EDM, vai ter de recorrer a meios alternativos, meios esses que também tem os seus problemas. Em primeiro lugar são insuficientes em termos de energia que geram e em segundo lugar essa eletricidade é muito cara. E ai há os que são beneficiados diretamente, as elites políticas e económicas em Moçambique que se posicionam para vender essa eletricidade à EDM a preços muito elevados. Como demonstramos no estudo esse preço é quatro vezes mais caro do que aquilo que vende a HCB. Neste momento temos um exemplo concreto do caso da GRECO que está a vender eletricidade à EDM. A GRECO é uma concessão da Gigawatts e esta empresa tem como presidente do Conselho de Administração o antigo ministro dos Recursos Minerais e Energia, o senhor Castigo Langa.
DW África: E quais são as consequências desta situação?
BN: Moçambique não tem eletricidade disponível para alimentar as suas necessidades. Neste momento, o grande empreendimento que existe no país, que é a MOZAL, consome energia que vem diretamente da África do Sul, porque a Eletricidade de Moçambique não pode fornecer mais. Os grandes projetos de mineração estão no limite do consumo de eletricidade e recorrem à criação das suas próprias centrais termo-elétricas para lhes poder fornecer eletricidade. O cidadão que é indefeso também enfrenta este problema de não ter eletricidade de qualidade e nem em quantidade suficientes. Consequentemente é o país que sofre com toda esta situação: a indústria não produz porque não recebe eletricidade suficiente.
DW África: Seria possível dar alguns exemplos ou comprovar que a Empresa Eletricidade de Moçambique é um instrumento político no país?
BN: Sim e em muitas dimensões. A primeira está demonstrada no trabalho que realizamos onde deixamos claro que as instituições do Estado simplesmente não estão a pagar as faturas de eletricidade, nomeadamente os serviços de informação e segurança do Estado, em Nacala. Mencionamos as 11 faturas que neste momento estão atrasadas em termos de liquidação, é o caso da FIPAG que é o Fundo de abastecimento de àgua e que tem mais de 15 milhões de meticais (cerca de 372 mil euros) em faturas atrasadas e a Eletrcidade de Moçambique não pode fazer cobrança coerciva porque o poder político não deixa. Esta é a primeira dimensão. A outra, é que existe uma série de empresas que fornece bens e serviços à Eletricidade de Moçambique, serviços que deveria ser a própria Eletricidade de Moçambique a executar tais como a eletrificação rural e a distribuição de cabos eletricos. Essas empresas estão ligadas a pessoas do poder. Mencionamos no nosso trabalho casos concernentes à Electrotek, ligada ao Presidente da República, e tantas outras empresas adjudicadas a generais como Jacinto Veloso, Mariano Matsinhe. Isso é um facto e consta nos documentos da EDM que estas pessoas estão a fornecer serviços à EDM e que deveria ser a própria Eletricidade de Moçambique a fazer. Por isso acreditamos que a situação na EDM beneficia aos decision makers e pelo facto não estão muito preocupados em reverter a situação.