Em Angola, ainda não há conclusões sobre o homicídio de "Ganga"
23 de dezembro de 2013Na noite de sexta-feira, 22 de novembro de 2013, Manuel Hilberto de Carvalho, “Ganga”, colava cartazes anti-Governo no âmbito de uma manifestação contra a repressão e “em repúdio às violações dos direitos humanos” em Angola. O protesto era convocado pela UNITA, o principal partido da oposição.
Nessa noite, os opositores foram abordados por elementos da guarda presidencial e levados em duas viaturas. Durante o caminho, os guardas proferiram “palavras agressivas e ameaças de morte”, relatam algumas testemunhas.
À chegada ao perímetro do Palácio Presidencial, os carros pararam e Manuel Hilberto "Ganga" desceu “para tentar pôr-se em fuga”, acabando por ser abatido a tiro.
Quem disparou?
Passou um mês desde a morte de “Ganga”, mas ainda não é conhecida nenhuma consequência jurídica ou política para os intervenientes no caso.
“As autoridades ainda não falaram nada. A CASA-CE pôs o caso em tribunal. Se elas não querem mostrar a pessoa que matou, é porque, obviamente, estão a esconder quem mandou matar”, diz Adolfo Campos, jovem militante do partido Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE).
“Quem é a pessoa que deu o tiro? Essa pessoa tem de ser julgada. Mas está tudo no silêncio”, acrescenta.
Um mês depois do sucedido, Manuel Hilberto é já considerado um símbolo do espírito de resistência do denominado movimento revolucionário, tendo mesmo sido declarado pela Casa-CE "patrono da juventude patriótica de Angola".
“Ganga” era engenheiro civil mas trabalhava como professor do 2º ciclo. Tinha 28 anos, deixa um filho de dois anos e uma noiva. Dentro do partido, “Ganga” era diretor nacional para a mobilização.
Em entrevista à DW África, Adolfo Campos lamenta a morte do colega e afirma que os jovens angolanos, politicamente conscientes, estão furiosos e não acreditam na Justiça do país.
Investigação em curso
A Procuradoria-Geral da República adianta entretanto que continua a investigar o caso, no sentido de apurar responsabilidades. Porém, para Adolfo Campos, o verdadeiro responsável é o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
“A guarda do Presidente é que matou, obviamente são os guardas do Presidente da República que podem matar. Mas é o Presidente que dá ordens”, frisa o jovem militante.
Adolfo Campos afirma que o processo decorre sob o silêncio cúmplice de muitos angolanos que reagem quando acham que o Presidente da República foi insultado, mas que são passivos perante a morte de jovens angolanos pelas tropas do Governo.