Em Angola, novo julgamento de jovens começa com erros
14 de setembro de 2011Depois de um início marcado por erros processuais, a acusação formalizou a queixa que se baseia em resistência à ordem das autoridades e suposta agressão.
Este segundo julgamento promete arrastar-se no tempo, tendo em conta os vários argumentos que estão a ser lançados pelo ministério público e por três advogados de defesa dos réus. No total, são 27 jovens que foram detidos na passada quinta-feira (08.09.) quando se encontravam em frente do tribunal de Luanda, em sinal de solidariedade com outros 21 jovens, que, naquele dia estavam a ser julgados. Estes últimos tinham sido presos na sequência de uma manifestação (03.09.) contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Alguns dos 27 jovens apresentaram-se no tribunal visivelmente debilitados devido ao facto de terem feito greve de fome e, supostamente, pelas agressões de que foram alvo.
No entanto, a UNITA, maior partido da oposição em Angola, acusou o chefe da inteligência militar e assessor do Presidente angolano, o General José Maria, de interrogar pessoalmente os jovens detidos: "No cumprimento da lei, a UNITA vai participar ao Ministério Público as violações da lei de que tem conhecimento", disse Adalberto da Costa Júnior, que acrescentou que o seu partido irá responsabilizar o Ministro do Interior e o General José Maria para que "nos termos do Artigo 140 da Constituição, respondam criminalmente, perante as instâncias jurisdicionais competentes, pelos crimes de que certamente serão indiciados".
Quanto aos primeiros 21 jovens, o recurso interposto pelo grupo de advogados de defesa já está no Tribunal Supremo. Esta segunda-feira (12.09.), os jovens receberam as sentenças, que variam entre 45 dias e 3 meses.
Protestos não se limitam à capital
Entretanto, multiplicam-se pelo país as manifestações e vigílias contra o poder de José Eduardo dos Santos: na província de Benguela, litoral centro, o Governo proibiu uma concentração de políticos. Um dos organizadores, Vitorino Nhani acusou as autoridades de terem ainda um pensamento no passado comunista e disse "repudiar a situação" que descreveu como "sequestro".
No país, o clima político continua tenso devido à onda de manifestações e à pressão exercida sobre jornalistas. Nos órgãos de comunicação públicos, a conquista do título de Miss Universo pela angolana Leila Lopes sobrepõe-se aos acontecimentos que agitam a vida política no país.
Uma outra manifestação está convocada para o sábado (24.09.) em Luanda.
Autor: Manuel Vieira (Luanda)
Edição: Marta Barroso/António Rocha