1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Em Moçambique, Lula defende fim de dependência do exterior

da Silva, Romeu20 de novembro de 2012

Ex-presidente brasileiro lembrou fim da dívida do país com o Fundo Monetário Internacional e ações de combate à pobreza durante seus governos. Mais da metade do orçamento moçambicano vem de doadores externos.

https://p.dw.com/p/16mwj

Em visita privada de três dias a Moçambique, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu a valorização do ser humano, o aumento da sua autoestima e a adopção de políticas governamentais para eliminar as desigualdades sociais.

Falando numa palestra sobre a "Luta Contra as Desigualdades Sociais" no Centro de Documentação Samora Machel, na capital moçambicana Maputo, Lula, como é conhecido, frisou que a distribuição da riqueza deve ocorrer ao mesmo tempo que o crescimento económico.

Diante de um público que misturou, segundo o Instituto Lula [fundado pelo ex-presidente para trabalhar na cooperação do Brasil com a África e a América Latina], militantes do partido governista FRELIMO, organizações não governamentais, funcionários públicos, empresários e ativistas da sociedade civil, o antigo presidente brasileiro enfatizou o facto do seu país ter-se livrado das "garras" do Fundo Monetário Internacional (FMI), pagando toda a dívida que o Brasil tinha para com aquela instituição.

"Na verdade, eu queria me livrar da tutela do FMI", discursou Lula, presidente de honra do movimento de esquerda Partido dos Trabalhadores (PT, no poder no Brasil sob a presidente Dilma Rousseff). "E eu passei metade da minha vida carregando faixa contra o FMI. Ou seja, quando eu chamo o FMI e comunico a eles: 'olha, eu não quero mais o dinheiro de vocês, eu vou pagar vocês' - e paguei, e fiquei sem dever um centavo. E hoje, eles me devem 14 bilhões (ou 14 mil milhões) de dólares - é motivo de muita alegria", afirmou o ex-presidente brasileiro, entre aplausos.

"Crescer e distribuir"

Lula disse que, com o alívio da dívida ao FMI, queria provar que "não era verdade" que o país tinha que crescer primeiro para depois distribuir. "Quando nós criamos o programa Fome Zero [disseminado por Lula em 2003 após ser criado por uma ONG em 2001 e apontado por críticos como um dos grandes fracassos de Lula pela má gestão da iniciativa], que é o guarda-chuva do programa [de transferência de renda] Bolsa Família, a gente (sic) não estava numa situação económica fácil", lembrou Lula.

"Mas na hora em que fomos discutir o orçamento da União, tínhamos que discutir sobre qual é a parte dos pobres nesse orçamento. Como o pobre não participa do governo, ou seja, ninguém lembra de colocar ele (sic) no orçamento. E como nunca sobra dinheiro o pobre está sempre fora", discursou.

Num outro desenvolvimento, o antigo presidente do Brasil apelou aos países africanos a diversificarem as suas relações para reduzir a dependência em relação a determinadas nações.

Apelou ainda aos dirigentes para que "escutem a voz do povo", porque isto significa "implementar a democracia na plenitude". "Eu fiz 74 conferências nacionais. Fiz conferências com homossexuais, lésbicas e o que mais tiver, eu fiz conferência com portadores de deficiência, de segurança pública, de comunicação, de idoso, de índio, de negro...", listou o ex-presidente brasileiro.

Realidade da população

Lula afirmou também que um dirigente só pode perceber as reais dificuldades de uma população conhecendo a realidade do povo. "Isto para a gente aprender com a sociedade. Não é que somos obrigados a fazer tudo que é resultado da conferência, mas para deixar as pessoas falarem".

O ex-presidente brasileiro criticou também o excesso de burocracia, que descreveu como sendo um fenómeno que mina o desenvolvimento de muitos países. E aqui, voltou a atacar o FMI: "A burocracia tem o hábito de emprestar o dinheiro com facilidade para o rico", discursou.

"Lembro outro dia, quando estava na presidência [do Brasil] ainda, quando teve a crise do [banco norte-americano] Lehman Brothers [falido em 2008 e que levou à crise financeira internacional naquele ano]. Depois a gente percebeu que o FMI parecia que percebia tudo, dava palpite para Moçambique. Eles sabiam tudo quando a crise era na Bolívia, no Brasil, no México e agora que a crise está nos países deles não sabem nada", criticou Lula, entre risos da plateia. "Nenhum alemão que quer ouvir falar do FMI, nenhum grego ou francês ... era só para nós que eles serviam".

No âmbito de sua visita a Moçambique, encerrada nesta terça-feira (20.11), Lula teve encontros com o presidente Armando Guebuza, com o primeiro-ministro Alberto Vaquina e com o ex-presidente Joaquim Chissano. Antes de chegar a Moçambique, Lula foi à África do Sul e segue para a Etiópia e a Índia, encerrando a viagem no dia 23.11.

Autor: Romeu da Silva (Maputo)/Renate Krieger
Edição: António Rocha