Macron: Choque perante caricaturas "não justifica violência"
31 de outubro de 2020"Compreendo que se possa ficar chocado com caricaturas, mas nunca aceitarei que se possa justificar a violência. As nossas liberdades, os nossos direitos, é nossa vocação protegê-los", afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, em entrevista à televisão árabe Al-Jazeera.
Trata-se da primeira entrevista do Presidente francês desde que defendeu o direito à publicação de caricaturas em nome da liberdade de expressão, declarações que deram origem a manifestações de milhares de pessoas em vários países muçulmanos.
Emmanuel Macron classifica como "indigna" e "inadmissível" a campanha de boicote aos produtos franceses lançada em alguns destes países, considerando que "as reações do mundo muçulmano se devem a muitas mentiras" e ao facto de as pessoas pensarem que Macron é a favor destas caricaturas. "Sou a favor de que as pessoas possam escrever, pensar e desenhar livremente no meu país, porque penso que é importante, que é um direito, que são as nossas liberdades", frisa.
Na "longa" entrevista, que será publicada na íntegra no domingo (01.11), Emmanuel Macron tenta "explicar tranquilamente a sua visão", para frisar que "as suas declarações foram distorcidas", segundo fonte próxima do Presidente francês citada pela agência France-Press.
Macron visa, segundo a mesma fonte, "contrariar as inverdades, para não as deixar desenvolver-se, e explicar os fundamentos do modelo republicano" de França. Na entrevista, Macron sublinha nomeadamente que as caricaturas não foram publicadas pelo Governo, mas por jornais livres e independentes.
Protestos em massa
As declarações de Emmanuel Macron sobre a liberdade de expressão foram proferidas a 22 de outubro, numa homenagem ao professor Samuel Paty, degolado por um extremista por ter mostrado caricaturas de Maomé aos alunos numa aula sobre liberdade de expressão.
"Defenderemos a liberdade [...] e a laicidade. Não renunciaremos às caricaturas, aos desenhos, mesmo que outros recuem", disse então o Presidente francês.
As palavras de Macron desencadearam fortes críticas de vários governos de países muçulmanos, apelos ao boicote de produtos franceses e manifestações de milhares de pessoas, nomeadamente no Bangladesh, Paquistão e, em menor escala, no Médio Oriente, Magrebe e Mali.
Esta sexta-feira, na capital de Bangladesh, Daca, cerca de 20 mil manifestantes exigiram um pedido de desculpas do Presidente francês e que o Governo convoque o embaixador de França para dar explicações. Também em Cabul, milhares de afegãos, a maioria jovens e clérigos islâmicos, protestaram nas ruas para condenar as declarações de Emmanuel Macron, que descreveram como "anti-islâmicas".
Em Beirute, vários confrontos eclodiram entre as forças de segurança e manifestantes que protestavam nas proximidades da residência do embaixador francês na capital libanesa contra a posição de Paris sobre a publicação de caricaturas do profeta Maomé.
As manifestações de protesto contra Macron estenderam-se também a todo o território palestiniano, desde Jerusalém a Gaza, passando pela Cisjordânia, com milhares nas ruas a criticarem o que consideram ser "os abusos contra o profeta Maomé", com bandeiras a cartazes com o rosto de Macron.