Empresas moçambicanas enfrentam dificuldades devido a crise
12 de julho de 2016Empresários moçambicanos estão a despedir trabalhadores por causa da crise financeira que o país atravessa, com o aumento dos preços, a desvalorização do metical e o aumento galopante da dívida pública, após a revelação de obrigações milionárias garantidas pelo Estado.
Segundo a Confederação das Associações Económicas (CTA), há empresários que não conseguem pagar salários há vários meses e o cenário tende a piorar, sobretudo para as empresas do norte e centro do país, onde estão os megaprojetos, e para as que têm o Estado como principal cliente.
Luís Sitoe, diretor executivo da CTA, não tem dúvidas: "Se o Estado, maior comprador, reduz a procura, [isso] leva ao arrefecimento da economia e vai contra a perspetiva de crescer 6,5%; vamos só crescer 4,5%".
Sitoe afirma ainda que todos estão "a perceber que o país não tem como manter o nível de despesa prevista no início do ano".
Sem avançar números concretos, Luís Sitoe diz que são muitas as empresas que estão a fechar as portas e que, em algumas zonas, chegam a encerrar dez empresas por dia, em média. "Todas as empresas que se posicionaram no norte para servir os grandes projetos refrearam", afirma o presidente da CTA. "Todas as empresas que estavam a servir estes investimentos, que não estão a acontecer, estão sem atividades e não há outro caminho se não fechar."
Cortes na despesa pública afetam empresas na capital
A crise também se sente em Maputo. Joaquim Queixa produz materiais e mobiliário de escritório, que costuma vender ao Estado, o seu maior cliente. Mas agora já não consegue pagar os salários aos seus 18 trabalhadores.
O empresário diz que "o salário não pode trazer soluções para os problemas que estamos a viver, não consegue cobrir tudo aquilo que são as nossas necessidades, porque a vida tende a ser mais difícil."
Florêncio Maduco, empresário na área dos transportes, também presta serviços ao Estado e a sua frota parou; não recebe dinheiro há três meses. Como consequência, não tem conseguido pagar salários.
"Aumentou o número de avarias, o que exige manutenções mais frequentes do que seria de esperar", explica Florêncio. "Tudo isso tem impacto negativo na economia. Talvez esta restrição [de despesas do Estado] não tenha o mesmo impacto que tem quando nós usamos mal os poucos meios que temos."
O Fundo Monetário Internacional e os parceiros de Moçambique congelaram as ajudas diretas ao país por causa de dívidas escondidas do anterior Governo, descobertas em abril.