Empresários estrangeiros ameaçam abandonar o Zimbabué
7 de dezembro de 2011Uma das teorias pós-coloniais do Zimbabué explicava a crise económica do país pelo facto de colonialistas brancos se terem apropriado das terras mais férteis do país. Por isso, o Presidente Mugabe lançou uma reforma agrária que previa a redistribuição das terras à classe média negra. Esta política agrária descambou em violência e nunca deixou de ser controversa.
Ministro ameaça empresários com prisão
Agora o Governo de Harare pretende estender a chamada “indigenização” a empresas e minas com proprietários estrangeiros. Estes, deverão ceder a maioria das suas ações a zimbabuanos negros.
Uma parte da população apoia este propósito. E o ministro da Indigenização, Savior Kasukuwere, é, obviamente, um dos seus mais acérrimos defensores. Kasukuwere, encarregado de controlar a redistribuição das empresas aos negros, já apresentou um ultimato a mais de dez donos de empresas que ainda não tomaram as medidas necessárias. O ministro ameaça com a prisão dos gestores e a anulação das licenças. “Devemos gerir os défices herdados da colonização”, diz, e acrescenta. “Independentemente de avançarmos para os tribunais ou não, uma coisa é clara: as pessoas deste país devem beneficiar dos seus recursos. Estamos determinados a caminhar nesse sentido”.
Setor mineiro é o principal visado
A lei visa sobretudo a indústria mineira, o principal motor de exportação do país. O que é motivo de inquietação para Victor Gaspare, da Câmara das Minas do Zimbabué. O empresário teme que os cidadãos não tenham os recursos necessários para financiar e estabilizar o setor mineiro: “São fundos incontornáveis. O que nós exigimos é um maior equilíbrio entre a necessidade de implantar a política de indigenização e o dever de criar condições para que a indústria mineira possa prosperar e contribuir para o crescimento económico do país”.
Os chefes das empresas mineiras dizem que estão prontos a integrar investidores indígenas na administração das suas sociedades. Mas defendem que ceder 51% das suas participações ultrapassa os limites. Segundo os empresários, esta medida ameaça causar uma fuga de capitais dos investidores estrangeiros, dos quais, no entanto, o país necessita para relançar a sua economia.
Reforma causa perturbações na coligação
A reforma está também na origem de tensões dentro do Governo de coligação. Mas o Presidente Mugabe não cede, afirmando que ela beneficiará as populações locais e servirá para corrigir desequilíbrios económicos herdados do colonialismo.
Esta política de indigenização recorda a reforma agrária do início do século XXI. A expropriação de terras foi acompanhada por violência. E a redistribuição das terras acabou por ser lucrativa, sobretudo, para o Estado, e não para os camponeses negros mais pobres. De um modo geral, esta reforma agrária é considerada um fracasso.
Autor: Colombus Mahvunga (Harare)
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha