Ensino na Tanzânia: quantidade em detrimento da qualidade
23 de fevereiro de 2011Foi há quase 10 anos que o governo da Tanzânia assegurou, por lei, que todas as crianças teriam direito ao ensino básico gratuito. Desde então os índices melhoraram significativamente. No ano 2000 apenas 60 por cento das crianças tanzanianas frequentavam uma escola primária. Hoje, oficialmente já são 95 por cento. Os pais, contribuem com uma taxa de 10 mil Shillings tanzanianos por ano, cerca de 5 Euros. E o governo continua a investir esse e outros dinheiros no ensino primário, construindo mais escolas e criando vagas para novos professores. Mas será que está tudo bem? Não, dizem os observadores no terreno. Rakesh Rajani, Diretor da organização não governamental Twaweza, que acaba de lançar um estudo sobre a qualidade do ensino na Tanzânia diz:„Estamos a enganar-nos a nós próprios." Rajani explica que qualquer perito sabe que não chega construir os edifícios escolares, é preciso zelar pela qualidade do ensino, e isso nunca aconteceu, segundo ele, e agora estão a sofrer as consequências. O diretor da Tawaweza disse ainda: "Registamos um enorme insucesso escolar e muitos alunos abandonam precocemente os estudos. Nós temos que admitir que esses problemas existem, em vez de nos vangloriar-mos de ter conseguido atingir o objectivo do milénio!"
Ninguém quer assumir as culpas
Segundo Rakesh Rajani o maior problema é a falta de meios, nomeadamente de dinheiro. As instâncias governamentais são muito burocráticas e não redistribuem as somas em dinheiro recolhidas junto dos pais. Nas escolas falta tudo: professores, livros, motivação. Ora nestas condições não é de admirar que mais de metade dos alunos tanzanianos não saibam lêr em inglês, mesmo depois de abandonarem a escola primária. Simon Samson, professor primário, reconhece o problema e responsabiliza o governo que não dá meios às escolas públicas queixando-se que o dinheiro simplesmente não chega às escolas. Ele lembra: "Já estamos em Fevereiro e ainda não recebemos nada este ano. Também não temos livros escolares. É um sofrimento para nós, temos que trabalhar com os poucos meios. Uma situação insustentável. Não é , pois ,de admirar que o nível de qualidade do ensino tenha baixado considerávelmente."
O Diretor Nacional do Ensino, Paul Mushi, na capital Dar-es-salam, não concorda. O governo não tem culpa, os verdadeiros responsáveis pela educação dos filhos são os pais. Paul Mushi acusa os pais de empurrar as responsabilidades para o governo." Mas isso não é solução, acrescenta. Para o diretor cada um tem que desenvolver um sentido próprio de responsabilidade. Mushi diz. "Todos nós temos que considerar o ensino como prioridade. Ora a responsabilidade não cabe apenas ao governo mas também às próprias famílias.“
As famílias ricas há anos que assumem as suas responsabilidades, inscrevendo os seus filhos em escolas particulares, para as quais pagam chorudas propinas. Os observadores vêm isso com preocupação, salientando que não é assim que se desenvolve uma sociedade próspera e justa.
Autor: António Cascais
Revisão: Nádia Issufo/António Rocha