Entendimento entre Governo e RENAMO "veio para ficar"
29 de julho de 2014"Custa a crer que, quase por varinha mágica, o Governo e a RENAMO tenham chegado a um consenso", diz o analista político moçambicano Silvério Ronguane. Depois de meses a fio de desentendimentos, esta segunda-feira (28.07) as duas partes chegaram a um consenso sobre a cessação das hostilidades militares, a integração dos elementos da RENAMO nas Forças Armadas e na polícia, além da sua reintegração económica e social.
O acordo entre o Governo e a RENAMO só não foi já assinado porque falta discutir a forma de garantir que os pontos acordados vão ser aplicados. O líder do principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, que está em parte incerta no centro do país, já anunciou que voltará a aparecer publicamente assim que haja garantias de aplicação do acordo.
Este acordo é uma "feliz notícia", comenta Silvério Ronguane, em entrevista à DW África.
DW África: Como é que o país recebeu a notícia do consenso entre as duas partes?
Silvério Ronguane (SR): Todos esperamos que o Governo e a RENAMO consigam efetivamente materializar esse seu desejo de paz, porque é precisamente isso que querem muitos milhares de moçambicanos, para mais na reta final da preparação das eleições gerais e provinciais.
DW África: Estarão criadas as condições para que todos os partidos políticos moçambicanos possam realizar uma campanha eleitoral pacífica?
SR: É isso que esperamos. Repare que, apesar do conflito político, elementos da RENAMO, da FRELIMO e do MDM já estavam a trabalhar lado a lado na Comissão Nacional de Eleições (CNE) e no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Este [consenso alcançado na segunda-feira] era o último passo necessário para que Dhlakama e os seus homens possam sair das matas, juntar-se ao MDM e à FRELIMO e fazer uma campanha política justa.
DW África: Este acordo que deverá ainda ser assinado poderá representar a implementação definitiva do Acordo de Roma?
SR: Tendo em conta os vários adiamentos, desentendimentos e a situação real, custa a crer que, quase por varinha mágica, [o Governo e a RENAMO] tenham chegado a consenso e que consigam levar o acordo adiante. Mas, neste momento, não temos outra alternativa senão acreditar neste entendimento, que apareceu quase do nada, uma vez que havia praticamente posições irreconciliáveis.
Temos de acreditar e encorajar o Governo. Não há dúvida de que a implementação é outra coisa e há muitas coisas que é preciso ultrapassar, nomeadamente barreiras psicológicas, sociológicas e até económicas… Mas eu quero acreditar que o entendimento veio para ficar.
DW África: O acordo prevê a integração do braço armado da RENAMO nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique e na Polícia da República de Moçambique, além da integração económica e social dos homens do partido. Poderá esta integração representar uma partidarização das forças de segurança?
SR: Acho que não. Nos órgãos eleitorais, a inclusão de membros de outros partidos não partidariza. Pelo contrário, acaba por criar um equilíbrio necessário dentro das instituições.
Por outro lado, costumo também dizer que as nossas Forças Armadas são constituídas maioritariamente por pessoas que vão cumprir o serviço militar obrigatório, que não têm interesse em carreiras militares ou algo do género.
DW África: Durante a tensão político-militar houve vários ataques, principalmente no centro de Moçambique, atribuídos maioritariamente aos homens da RENAMO, que resultaram em várias mortes. Perante o consenso agora alcançado, como se pode responsabilizar os autores da violência?
SR: Seria injusto responsabilizar os autores materiais, quando os autores morais não são responsabilizados. Portanto, parece-me justo que haja uma amnistia geral. Aliás, isso mesmo foi expresso pelo chefe de delegação da FRELIMO.