Indicação de João Lourenço pode ser simulação, diz analista
13 de dezembro de 2016Nas comemorações dos 60 anos da fundação do partido, no último sábado (11.12.), data indicada para o anúncio do seu cabeça de lista às eleições gerais de 2017, o presidente do partido José Eduardo dos Santos não compareceu. Coube ao vice-presidente assumir o papel de chefe de cerimónias e discursar perante milhares de pessoas.
No entanto, o discurso do putativo sucessor de José Eduardo dos Santos não agradou a generalidade dos analistas e da população em geral, que ouviram um discurso virado para o passado, segundo observou o advogado e analista político Domingos Chipilika Eduardo: "Continuo apenas a singularizar que tudo que foi feito de bom foi o MPLA que fez. Quando o próprio Presidente da República, em alguns momentos, reconheceu que há corrupção, reconheceu que há promiscuidade, reconheceu que não se fez muito sobre a diversificação da economia..."
E o analista conclui: "Enfim, pensamos que João Lourenço foi infeliz, agiu em contramão, e como futuro Presidente deste país, lamentavelmente, dizíamos foi um discurso muito mal preparado e desajustado a realidade atual. Falta muito, deverá aprender muito ainda para ser o Presidente e ter o carisma de José Eduardo dos Santos”.
Não são esperadas mudanças profundas
Opinião semelhante tem o jornalista João Marcos para quem João Lourenço não deu quaisquer garantias de que poderá provocar mudanças profundas na eventualidade de vir a suceder o atual Presidente: "Há um grande nível de descontentamento e penso que não é com este discurso que se inverte o quadro. É com ações práticas. Eu continuo a bater muito na tecla da criação de emprego, sem emprego o MPLA não convence o eleitorado."
E o jornalista lembra que, "por outro lado, o grande desafio de anos é o problema das desigualdades. Até hoje, continuamos com a ideia de que há um grande grupo que tem tudo e mais alguma coisa, a maior parte dos angolanos passa mal, passa fome.”
Clivagem na cúpula do MPLA?
Sobre o facto do MPLA não ter confirmado João Lourenço como o seu cabeça de lista nas eleições gerais marcadas para 2017, o jornalista João Marcos, considera que esta situação se deve a alguma clivagem no seio da cúpula do partido no poder.
Segundo ele, "esta demora pode fazer com que o MPLA vá para as eleições de 2017 com um líder algo fragilizado e presumo que possa haver algum problema interno. O facto de João Lourenço não estar a ser bem-encarado, por, chamemos assim os barões do seu partido poderá estar na base deste atraso. Acho que o Presidente da República pretende acalmar os ânimos. Fala-se numa mudança radical que se calhar pode não servir para aquilo que são os interesses das figuras de peso do regime, estamos a falar de interesses económicos”.
Também para o analista político Domingos Chipilika, o facto do atual vice-presidente do MPLA, João Lourenço, não ter sido confirmado como possível cabeça de lista para as próximas eleições, indica que Dos Santos poderá concorrer à sua sucessão.
Chipilika diz: "Acredito que é uma simulação que está a ser muito bem-feita. Uma novela com capítulos muito mais interessantes. E que na verdade tudo vai ser a vontade do MPLA. Será na verdade a vontade que o próprio MPLA determinar. Das duas uma: as bases ou confirmam a vontade do chefe de querer sair, ou então não confirmam e pedem que o chefe fique."