Escravas sexuais do Boko Haram
12 de abril de 2016Yazan Imra, de 18 anos, conta que foi raptada em Gambarou, no norte dos Camarões, junto à fronteira com Nigéria e levada pelo Boko Haram para um esconderijo, onde foi abusada sexualmente durante cerca de dois anos. "Os combatentes do Boko Haram tomaram conta de toda a nossa propriedade e obrigaram-nos a nós e às nossas crianças a ir para os campos", recorda.
Os rapazes faziam trabalhos domésticos e aprendiam a lidar com armas e explosivos, relata Yazan. "As meninas e mulheres eram exploradas sexualmente pelos combatentes. Também cozinhávamos para eles". A jovem foi salva graças aos ataques de uma força militar internacional de combate ao grupo terrorista nigeriano. É mãe de um bebé de 16 meses, mas não sabe quem é o pai.
Grupos terroristas, em particular o Boko Haram, têm raptado e explorado milhares de pessoas para terrorismo na África Central. A partir dos Camarões, Chade, República Centro-Africana, Gabão, Guiné Equatorial e República do Congo, os terroristas sequestram crianças, mulheres e homens para serem usados como combatentes, escravas sexuais, mensageiros, guardas, cozinheiros e espiões.
"Mulheres e crianças são vendidas tanto a rebeldes na República Centro-Africana como a terroristas do Boko Haram no norte dos Camarões e são obrigadas a juntarem-se a eles", confirma Lawrence Oben Enow, chefe do gabinete da Interpol para os Estados da África Central.
Segundo Enow, muitas são usadas como escravas sexuais ou combatentes e suspeita-se que as cerca de 300 raparigas raptadas numa escola em Chibok, no norte da Nigéria, tenham sido usadas como bombistas suicidas e escravas sexuais. "Os deslocados internos são pessoas vulneráveis ao tráfico humano por grupos armados", sublinha.
Refugiados traumatizados
No campo de refugiados de Minawao, no norte dos Camarões, vivem mais de 260 mil pessoas. Entre os refugiados identificados com necessidades especiais e direcionados para apoio psicológico está Hamidou Mohamat, de 21 anos, que foi raptado na vila nigeriana de Kumshe. "Os combatentes do Boko Haram obrigaram-me a mim e aos meus três irmãos a juntar-nos a eles. Quem tentava escapar era morto", recorda.
Os combatentes atacavam hospitais, escolas, camponeses e empresários. Hamidou Mohamat tinha de "assegurar que toda a comida e bens de primeira necessidade, que eram roubados, eram levados para os seus campos no mato".
Mohamat conseguiu escapar. Entregou-se aos militares e está a ajudá-los nas investigações. Os militares garantem que os ex-prisioneiros de grupos rebeldes que são apanhados com armas são detidos e julgados num tribunal militar. Os que se entregam por livre vontade são levados para campos especiais para ajudar nas investigações.
Segundo Alain Mvogo, oficial militar camaronês, está a ser dada especial atenção e aconselhamento a refugiados com trauma. "O objetivo é libertar todos aqueles que estiveram presos em cativeiro pelo Boko Haram e trazer de volta paz às suas comunidades", afirma. "Trabalhamos com grupos humanitários e organizações não-governamentais para darmos tratamento adequado a pessoas traumatizadas, cuidar das suas necessidades de saúde e dar-lhes comida".
Os chefes da polícia de seis países da África Central estiveram reunidos, recentemente, em Yaoundé, nos Camarões, para tentar encontrar soluções para combater o tráfico humano que visa alimentar grupos terroristas. Comprometeram-se em levar à justiça todos os traficantes.