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DesastresTurquia

Estudante guineense relata o pânico que viveu na Turquia

8 de fevereiro de 2023

Em entrevista à DW, estudante guineense fala sobre momentos de terror que viveu devido ao terramoto na Turquia: "Morreram os meus amigos, colegas de turma". Outro jovem, um estudante moçambicano, pede ajuda ao seu país.

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Foto: Stoyan Nenov/REUTERS

Upa Almirante Có acordou de um sono profundo para encarar o terror. Passava das quatro horas da manhã, na segunda-feira, quando o prédio onde mora começou a abanar com força.

A cama onde dormia, as paredes do quarto, os armários – tudo tremia.

"O pânico instalou-se e as pessoas corriam de um lado para o outro, tentando sair do prédio. Fui até ao elevador, disseram que era pior. Então, desci as escadas de pés descalços. Lá fora, estava a nevar e tivemos de ficar longe dos edifícios e junto ao gelo, sem casaco e sem sapatos", conta o jovem guineense.

O estudante de Design, que vive na Turquia há dois anos, ficou a dormir na rua durante dois dias. Diz que assistiu ao vivo ao que até aí só tinha visto nos filmes.

"Não nos podíamos deslocar para lado algum. Ficámos ali a ver o desabamento de prédios e pessoas a morrer", afirma Upa Có. "Só queria sair da cidade. Mais de 3 mil pessoas morreram e outras ainda estão desaparecidas aqui."

Jovem guineense Upa Almirante Có
Upa Almirante Có diz que vivia no oitavo andar; depois do terramoto, ficou a dormir na ruaFoto: Privat

Trauma

Upa Có é um de quatro cidadãos guineenses que se encontravam Kahramanmaraş, a cidade turca mais afetada pelo sismo registado na segunda-feira (06.02). Garante que estão todos bem e não sabe de nenhuma vítima mortal dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), apenas de colegas estudantes dos países africanos francófonos.

"Morreram os meus amigos, colegas de turma, amigos turcos, estudantes africanos dos países francófonos, na sua maioria do Gabão. Também houve prédios dos meus vizinhos a cair", diz.

O guineense conseguiu apenas recuperar o seu passaporte e o cartão de residência. A embaixada da Guiné-Bissau em Ancara, capital da Turquia, diz que está a acompanhar a situação e disponibilizou-se a ajudar as pessoas afetadas.

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O rasto de destruição do terramoto em KahramanmaraşFoto: Planet Labs PBC/AFP

O moçambicano Danilo Paulo vive em Ancara, longe das cidades mais afetadas, mas também sentiu os efeitos do terramoto. Está preocupado com dois dos seus conterrâneos: "Felizmente, não ficaram feridos, tiveram apenas danos materiais".

O jovem está na Turquia há dois anos, a formar-se em Economia. Conta à DW que a tragédia afetou o país inteiro.

"É um caso traumatizante, porque a Turquia tornou-se a nossa segunda casa. Temos as pessoas com quem convivemos todos os dias - os nossos colegas de turma e de quarto - estão a sentir muito com esta situação chocante. Tenho um amigo que perdeu os pais e precisa de uma doação de sangue."

Pedido de ajuda

Danilo diz que recebeu informações de colegas nas áreas afetadas de que têm de esperar duas horas em fila só para comprar pão. A comida começa a faltar.

Há ainda um outro problema para os estudantes: "Os dormitórios estão a ser evacuados para que possam entrar as famílias desalojadas e deslocadas. Então, está difícil para nós".

"Precisamos de ajuda dos nossos países", apela o jovem. "Há alguns estudantes estrangeiros que estão a dormir nos refeitórios, enquanto os estudantes turcos vão para casas de famílias."

Na terça-feira, o Governo moçambicano disse que estava a trabalhar "para criar condições de abrigo e segurança" para estudantes moçambicanos que precisem de apoio na Turquia.

No país, já foram registados mais de 8 mil mortos, anunciou o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ao visitar a cidade de Kahramanmaraş, onde foi registado o epicentro do sismo.

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