1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Etiópia: Conflito agrava-se na região dissidente de Tigray

mc | com agências
16 de novembro de 2020

Força Aérea etíope voltou a bombardear a capital de Tigray, Mekele. Pouco tempo antes do ataque, a ministra da Defesa etíope disse à DW que falta pouco para que a junta em Tigray seja capturada.

https://p.dw.com/p/3lNHI
Äthiopien I Situation in der Region Tigray
Foto: Eduardo Soteras/AFP/Getty Images

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, ordenou novo ataque aéreo à capital de Tigray, Mekele, dois dias depois de a Frente de Libertação de Tigray (TPLF) lançar vários mísseis em direção a Asmara, a capital da vizinha Eritreia.

"Um ataque aéreo ocorreu hoje [16.11] de manhã por volta das 10h45 [locais] numa área chamada Kedamay Woyane [em Mekele]", informou a TPLF, em comunicado.

De acordo com fontes do Governo etíope, helicópteros da Força Aérea sobrevoaram a cidade de Mekele. Nem o Governo nem a TPLF disseram se o ataque deixou vítimas.

Numa entrevista exclusiva à DW Amárico, poucas horas antes do novo ataque, a Ministra da Defesa da Etiópia, Kenna Yadeta, disse acreditar, contudo, que a TPLF está a perder força.

"Todas as suas ações [da TPLF] atestam um elevado nível de frustração. Não têm mais força, capacidade e tempo para intensificar as guerras na região. Esta junta [em Tigray] tem apenas um tempo muito curto para ser capturada", afirmou.

Nomeada em agosto de 2020 como parte de uma grande remodelação do gabinete do Primeiro-Ministro Abiy Ahmed, Yadeta descredibiliza alguma informação veiculada pelas forças de Tigray.

"[As TPLF] afirmaram ter abatido jatos da força aérea, e ter conquistado cerca de dez mil forças governamentais. A situação revelou-se uma mentira, pois eram conhecidos por mentir durante o seu domínio [da Etiópia como líder da coligação EPRDFR] ao longo dos últimos 27 anos. Nós [Governo da Etiópia] podemos alcançar uma vitória esmagadora a qualquer dia, a partir de agora", afirmou à DW.

Missões de mediação em curso?

Yoweri Museveni
Yoweri Museveni: "Deve haver negociações e uma pausa no conflito"Foto: picture-alliance/dpa/A. Novoderezhkin

Entretanto, líderes africanos estão a fazer esforços para mediar o conflito entre o Governo federal e a região separatista de Tigray.

O presidente de Uganda, Yoweri Museveni, pediu o fim dos combates, depois de se encontrar em Kampala com o ministro das Relações Exteriores etíope, Demeke Mekonnen.

"Uma guerra na Etiópia daria um mau nome a todo o continente. Deve haver negociações e uma pausa no conflito, para que não leve à perda desnecessária de vidas e paralise a economia", escreveu Museveni no Twitter esta segunda-feira, embora posteriormente tenha apagado a mensagem, sem dar explicações.

Antes, o Governo etíope havia negado que o Uganda mediaria uma solução entre as partes em conflito, como alguns veículos de imprensa locais tinham informado.

O ex-Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo também "está a caminho de Addis Abeba para conversações", disse Kehinde Akiyemi, porta-voz do antigo chefe de Estado, citado pela agência France-Presse esta segunda-feira, acrescentando que se trata de uma missão de "mediação".

Nobel da Paz vai para primeiro-ministro etíope Ahmed Ali

No entanto, o Governo etíope e a União Africana (UA) disseram não ter informações sobre esta missão de Obasanjo, que no passado já foi o enviado especial das Nações Unidas (ONU) para a República Democrática do Congo (RDCongo). 

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019, tem ignorado os apelos internacionais em prol de um diálogo e está relutante em aceitar uma negociação com a TPLF para resolver a crise. O Comité Nobel norueguês disse esta segunda-feira que está "profundamente preocupado" com o conflito em curso na Etiópia e apelou ao fim da violência.

Cronologia dos acontecimentos

Abiy Ahmed lançou a 4 de novembro uma operação militar na região de Tigray, após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da TPLF. Na semana passada, Ahmed disse que as forças federais tinham "libertado" a zona ocidental da região de Tigray, que é composta por seis zonas mais a capital, Mekele, e áreas circundantes.

Nos últimos dias, a TPLF, estendeu o conflito para além da região separatista de Tigray. Não só lançou foguetes nos aeroportos da região de Amhara, na Etiópia, como em Asmara, capital da Eritreia, vizinha da Etiópia a norte. A TPLF acusou a Eritreia de enviar tanques e soldados através da fronteira contra ela. Mas Asmara nega.

Debretsion Gebremichael, líder da TPLF, disse que os ataques são "legítimos" porque as forças federais estão a utilizar os aeroportos como parte das suas operações militares em Tigray.

No domingo, os meios de comunicação social estatais relataram que as forças federais tinham tomado Alamata, uma cidade a 180 quilómetros a sul de Tigray, "libertado-a" da TPLF.

A região de Tigray permanece isolada e com as telecomunicações cortadas desde o início desta ofensiva, no último dia 4, em retaliação a um ataque das forças da TPLF a uma base local do Exército etíope.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) disse esperar uma onda de refugiados no vizinho Sudão, acreditando que o conflito poderá escalar.  

Quase 25 mil homens, mulheres e crianças etíopes já fugiram dos combates em Tigray, de acordo com a agência oficial sudanesa Suna. 

Centenas de pessoas terão sido mortas até agora no conflito, algumas num massacre documentado na semana passada pela Amnistia Internacional.