Etiópia: Acordo para facilitar ajuda humanitária em Tigray
12 de novembro de 2022O compromisso consta de uma declaração na sequência de conversações na capital queniana, Nairobi, sobre a plena implementação de um acordo de paz assinado entre as partes beligerantes há 10 dias.
"As partes concordaram em facilitar o livre acesso humanitário a todos os que necessitam de assistência em Tigray e regiões vizinhas, facilitar a livre circulação dos trabalhadores da ajuda humanitária, fornecer garantias de segurança aos trabalhadores e organizações de ajuda humanitária, bem como a protecção dos civis", de acordo com uma declaração emitida pela União Africana, que tem estado a mediar as negociações.
As duas partes concordaram também em estabelecer um comité conjunto para implementar o acordo de desarmamento dos combatentes com a Frente de Libertação Popular de Tigray (TPLF), lê-se ainda no documento.
A Comissão da União Africana afirmou que "saúda as partes por estas importantes medidas de criação de confiança e encoraja-as a prosseguir no sentido da plena implementação do Acordo de Cessação das Hostilidades, como parte dos esforços globais para pôr fim ao conflito e restaurar a paz, a segurança e a estabilidade na Etiópia".
O acordo assinado hoje pelo marechal Berhanu Jula, chefe de estado-maior das Forças Armadas etíopes (ENDF), e pelo general Tadesse Worede, comandante das forças rebeldes do Tigray, prevê "um acesso humanitário a todos os que precisem".
A medida terá "efeitos imediatos", explicou o antigo presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, enviado especial da União Africana.
O Governo e a TPLF assinaram a 2 de novembro, na África do Sul, um acordo de "cessação das hostilidades" que foi saudado pela comunidade internacional como um primeiro passo crucial para pôr fim a uma guerra brutal de dois anos no norte da Etiópia.
O restabelecimento da ajuda a Tigray, uma região de seis milhões de pessoas que está a braços com uma grave crise humanitária, é um dos pontos-chave do acordo.
Rebeldes desmentem Governo
O reinício dos combates no final de agosto afetou a entrega de alimentos e medicamentos, que já era insuficiente, sendo que a região está privada de serviços básicos (eletricidade, telecomunicações ou funcionamento de instituições bancárias) há mais de um ano.
Na quinta-feira, o Governo etíope afirmou que mais de 100.000 pessoas receberam ajuda humanitária após o acordo de cessação de hostilidades da semana passada com a TPLF.
As autoridades rebeldes do Tigray, no entanto, negam, afirmando que as declarações do Governo sobre a chegada da ajuda à região no quadro do acordo de paz não fazem sentido. "Estas afirmações 'saíram do nada'", disse à France Presse Getachew Reda, porta-voz dos rebeldes do Tigray.
Um funcionário de uma agência humanitária negou à AFP a chegada de qualquer ajuda humanitária, contrariando as últimas declarações do Governo etíope.