Etiópia inicia ataques à capital regional de Tigray
28 de novembro de 2020A emissora televisiva local de Tigray anunciou os bombardeamentos ao meio-dia deste sábado (28.11) em Mekele, capital regional de Tigray com uma população de meio milhão de pessoas.
Os militares da Etiópia "começaram a atingir com armamento pesado e artilharia o centro de Mekele", disse o Governo local à agência de notícias AFP. "O Estado regional de Tigray apela a todos os que têm a consciência tranquila, incluindo a comunidade internacional, a condenarem os ataques aéreos e massacres que estão a ser cometidos", lê-se numa declaração.
Debretsion Gebremichael, líder da Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF), confirmou à agência Reuters, numa mensagem de texto, que Mekelle estava sob "bombardeamento pesado". Os militares etíopes estão a utilizar artilharia no ataque, acrescentou.
As explosões foram relatadas no norte da cidade, na zona de Hamidai.
Conflito atinge vizinha Eritreia
Na noite de sexta-feira (27.11), pelo menos um míssil disparado a partir do norte de Tigray atingiu a vizinha Eritreia, disseram à AFP quatro diplomatas regionais.
Não houve confirmação imediata de quantos mísseis foram disparados, onde aterraram, nem de quaisquer baixas ou danos causados.
A TPLF acusou a Etiópia de ter obtido apoio militar da Eritreia nos combates, uma acusação que a Etiópia nega.
O grupo reivindicou a responsabilidade por ataques semelhantes contra a Eritreia há duas semanas, mas não houve nenhum comentário imediato dos seus líderes na sexta-feira.
Mediação africana
Abiy anunciou operações militares em Tigray a 4 de novembro, após meses de fricção entre o seu Governo e a TPLF.
O primeiro-ministro recusou-se a negociar com a TPLF e rejeitou os apelos ao diálogo como "interferência" nos assuntos internos da Etiópia.
Na sexta-feira, encontrou-se com três ex-líderes africanos - Joaquim Chissano de Moçambique, Ellen Johnson Sirleaf da Libéria e Kgalema Motlanthe da África do Sul - despachados esta semana pela União Africana (UA) como mediadores.
Numa declaração emitida após a reunião em Adis Abeba, Abiy disse apreciar "este gesto e... o empenho firme que este demonstra no princípio das soluções africanas para os problemas africanos".
Mesmo assim, o Governo tem uma "responsabilidade constitucionalmente mandatada para fazer cumprir o Estado de direito na região e em todo o país", disse o seu gabinete numa declaração.
"Não o fazer iria promover uma cultura de impunidade com custos devastadores para a sobrevivência do país", afirmou.
O secretário-geral da ONU saudou as conversações com os enviados da UA e exortou todas as partes a "resolverem pacificamente o conflito".
Antonio Guterres salientou também a necessidade de "assegurar a proteção dos civis, os direitos humanos e o acesso da assistência humanitária às áreas afectadas".
O Governo de Tigray, entretanto, disse na sexta-feira que o exército federal estava a bombardear cidades e aldeias e a infligir pesados danos.
"A nossa luta continuará de todas as direções até que a autodeterminação do Povo de Tigray esteja garantida e a força invasora seja expulsa", disseram as autoridades locais numa declaração lida na televisão regional.
Preocupação internacional
A comunidade internacional tem manifestado grande preocupação com o conflito e o seu impacto humanitário, enquanto insiste nos apelos ao diálogo.
Na sexta-feira, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, disse por meio de comunicado, após o seu encontro com o vice-primeiro-ministro etíope, Demeke Mekonnen: "É claro para nós que ambos os lados devem pôr fim à violência. Todas as partes devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para proteger os civis e para conceder acesso à ajuda humanitária".
Também o Papa Francisco apelou ao fim da violência. "O santo padre (...) apela às partes em conflito para que cessem a violência e salvem vidas, especialmente as de civis, para que a população possa regressar à paz", disse o diretor do gabinete de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, num comunicado na sexta-feira.