EUA: Quatro polícias detidos pela morte de George Floyd
4 de junho de 2020O Ministério Público norte-americano agravou na quarta-feira (03.06) para homicídio em segundo grau a acusação do agente da polícia que provocou a morte a George Floyd e, pela primeira vez, acusou formalmente os três outros agentes que o acompanhavam. Os três já foram detidos, segundo a imprensa norte-americana. O ex-agente Derek Chauvin, que sufocou a vítima, já se encontrava sob custódia policial. Agora, enfrenta uma pena que pode chegar aos 40 anos de prisão.
De acordo com o Ministério Público, as suas ações foram "um fator causal substancial" na morte de Floyd, que foi detido pela polícia e imobilizado na rua por um agente que pressionou o seu pescoço com o joelho durante vários minutos, apesar de a vítima afirmar várias vezes que não conseguia respirar. O afro-americano morreu depois de ser detido por suspeita de ter tentado pagar uma compra com uma nota falsa de 20 dólares num supermercado.
Imagens registadas por testemunhas no local mostram não só que Chauvin imobilizou Floyd durante cerca de nove minutos, mas que outros dois polícias pressionavam as costas da vítima com os joelhos.
Numa declaração escrita, a família de George Floyd disse estar "satisfeita por esta importante ação ter sido tomada antes que o corpo de George Floyd fosse enterrado".
A família vai prestar tributo a George Floyd, num serviço de memorial, esta quinta-feira, na North Central University em Minneapolis. A população norte-americana vai relembrar o afro-americano de 46 anos em cerimónias fúnebres em três cidades, durante seis dias, culminando com o funeral na cidade de Houston, onde George Floyd cresceu e viveu a maior parte da vida, após uma cerimónia com 500 pessoas na Igreja de Fountain of Praise.
Protestos continuam
Mais de uma semana depois da morte de George Floyd, as manifestações não só continuam como se alastraram um pouco por todo o mundo. Os manifestantes são unânimes: pedem justiça e igualdade.
Milhares de pessoas, em mais de 150 cidades norte-americanas, continuam a desafiar o recolher obrigatório e a sair às ruas em protesto, não dando ouvidos às ameaças de Donald Trump de enviar o exército para reprimir as manifestações. Pelo menos 9.000 mil foram detidas desde o início das manifestações.
Os últimos dias foram marcados por episódios de extrema violência contra manifestantes e jornalistas. Esta quarta-feira, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, vincou a sua posição: "A opção de recorrer às Forças Armadas dos Estados Unidos só deveria ser usada em casos muito urgentes e terríveis. O atual momento que se vive no país não é uma dessas situações. Não apoio a [decisão de] decretar o estado de insurreição”.
Também esta quarta-feira, numa mensagem vídeo transmitida pelas televisões norte-americanas, o ex-Presidente Barack Obama incentivou os jovens que lideraram os protestos contra a violência a continuarem a realizá-los para garantir que tragam mudanças, e disse que o movimento reflete uma "mudança de mentalidade" sem precedentes na história do país.
"Por mais dificeis e trágicas que tenham sido estas últimas semanas, foram também uma oportunidade incrível para as pessoas acordarem e para trabalharmos todos juntos em prol da mudança da América. O que me deixa mais esperançoso é ver tantos jovens mobilizados (por esta causa). Historicamente, muitos dos progressos que fizemos na nossa sociedade ficaram a dever-se aos jovens", sublinhou.
Críticas da comunidade internacional
O Governo de Donald Trump tem estado sob uma verdadeira chuva de críticas, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Desde a China ao Irão, passando pelo Reino Unido, Canadá e França, têm sido muitos os governos e organizações a apontar o dedo ao país.
O porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, disse, esta quarta-feira, que o governo de Berlim está chocado com o sucedido: "A morte de George Floyd chocou o governo e as pessoas na Alemanha e em todo o mundo. Trata-se de uma morte terrível e evitável. Estou certo de que o racismo não é um problema americano, é um problema de muitas sociedades, incluindo da nossa”.
Também o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse ter ficado horrorizado com o sucedido, lamentando a morte de George Floyd e enviando uma mensagem "para o Presidente Trump e para qualquer pessoa nos Estados Unidos, e no Reino Unido”: "Estou certo de que esta é uma opinião amplamente partilhada em todo o mundo, é que o racismo, a violência racista, não tem lugar nas nossas sociedades”.
Londres, Paris, Manaus, Sidney, Telavive ou Náirobi são apenas algumas das cidades onde, nos últimos dias, milhares de pessoas saíram às ruas para pedir justiça pela morte de George Floyd e protestar contra a violência policial e o racismo em geral.