Europa retira apoio ao Governo do Burundi
28 de maio de 2015Durante anos, a França contribuiu para a formação das forças policiais e soldados do Burundi, que recentemente vinham sendo cada vez mais destacados para missões de paz fora do país. Mas agora, quando a situação permanece tensa no Burundi, o exército e polícia intervêm nos protestos contra a candidatura a um terceiro mandato do Presidente Pierre Nkurunziza.
Para alguns analistas, a decisão francesa vem tarde. É o caso de Julia Grauvogel, investigadora política no Instituto GIGA de Estudos Africanos, em Hamburgo, que diz que a força policial usa violência extrema contra os manifestantes: “É preciso questionar se é sensato fortalecer o exército e a polícia num país que tem um historial de golpes militares e onde a polícia, no passado, foi um instrumento de um regime autoritário”.
A hesitação francesa
A França diz Julia Grauvogel, não teve um papel de figurante nos recentes acontecimentos no Burundi. As forças de segurança burundesas combatem há semanas os protestos que invadiram as ruas do país. De acordo com a comunicação social do país, estas forças estão sob o comando do comissário André Ndayambaje, cujo conselheiro é um perito de segurança francês. Além disso, no passado a embaixada francesa ofereceu refúgio aos protagonistas políticos de golpes militares no Burundi.
Thierry Vircoulon, do grupo Crisis International, também critica a hesitação de Paris, sublinhando que este foi o país europeu que mais tempo manteve o silêncio sobre a crise no Burundi: “Mas não podia manter essa posição por muito mais tempo sem minar a solidariedade europeia para com Bujumbura”, conclui.
Pressão internacional resultou no adiamento das eleições
Recentemente, a comunidade internacional – os Estados Unidos da América, a União Europeia, a União Africana e os países da região dos Grandes Lagos - pediram o adiamento das eleições no Burundi, considerando que o ambiente no país não é propício à realização do escrutínio. Entretanto, Bujumbura anunciou um adiamento de 10 dias, marcando as legislativas para 5 de Junho.
A França, de resto, não está sozinha no apoio militar e policial ao Burundi. Outros países europeus, como a Holanda, a Alemanha e a Bélgica cooperam com as forças de segurança do Burundi há vários anos.
Suspensão do apoio alemão
Face à instabilidade política no país africano, tantos os projectos de apoio policial alemães, como a ajuda financeira belga foram, entretanto, suspensos. A Holanda e a Suíça também anunciaram a suspensão do apoio eleitoral ao Burundi.
Na opinião de Julia Grauvogel, trata-se de sinas que indicam que a comunidade internacional está a repensar a sua postura em relação ao país africano: “Está a ocorrer uma espécie de processo de reformulação. Está-se a questionar a utilidade, no contexto actual, de continuar a fortalecer as forças armadas e especialmente a polícia, dada a repressão dos manifestantes que vimos nas últimas semanas”.
Cortes na educação para financiar as eleições
O Governo do Burundi está agora a apelar a doações da população para financiar a realização das eleições, afirmando tratar-se de um “dever patriótico”. De acordo com um porta-voz do Governo, o Executivo pôs já de parte 25 milhões de euros para o processo eleitoral e garante que o escrutínio terá lugar, com ou sem ajuda dos governos ocidentais. E Bujumbura acrescenta que já estão previstos cortes na educação, prevenção da malária e projectos de energia para financiar as eleições.