Falta apoio a alunas sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria
21 de julho de 2018Na Nigéria, o Governo pouco ou nada faz para reintegrar as crianças que foram sequestradas pelos terroristas do Boko Haram e que, mais tarde, conseguiram ser libertadas. É essa a opinião de Florence Ozor, do movimento nigeriano "BringBackOurGirls", "tragam de volta as nossas meninas", entrevistada pela DW.
"Não se pode ficar inativo e pensar que as meninas libertadas do cativeiro do Boko Haram sejam capazes de se libertarem dos traumas sofridos, sem qualquer acompanhamento psicológico", diz Florence Ozor.
"Essas meninas precisam de apoio de médicos e assistentes sociais especializados para que sejam capazes de, pouco a pouco, digerir as violências a que foram expostas. É um caminho longo e difícil, que terá que ser planeado minuciosamente. Mas o Governo nada fez nesse sentido", acrescenta a ativista.
Acesso ao ensino escolar para um dia poderem ter uma vida autodeterminada é isso que desejam as duas irmãs Falmata e Aisha, que o repórter da DW Adrian Kriesch teve a oportunidade de visitar. As duas meninas fazem parte de um grupo de 100 crianças que foram sequestradas em fevereiro por combatentes do Boko Haram, que atacaram o colégio de Dapchi, uma escola com mais de 900 alunas.
Um mês depois, após difíceis negociações entre os terroristas e o Governo da Nigéria, as meninas conseguiram ser libertadas, mas as feridas causadas pelo sequestro ainda não cicatrizaram. A maior parte das meninas já voltou às aulas, mas o medo está presente. Há pais que até preferem que as filhas não voltem para a escola.
Sonhos para o futuro
Falmata tem 15 anos de idade e usa um hijab vermelho, um véu que cobre a sua cabeça. Um dia gostaria de ser advogada, conta ao repórter da DW. Aisha, de 14 anos, e de véu verde-oliva, diz que gostaria de ser médica.
O pai das duas meninas não apoia a ideia. Verificou-se que frequentar a escola pode ser perigoso. A qualquer momento pode haver novos ataques. As suas filhas até já estão na idade para se casarem, afirma o pai, e de irem viver para as casas dos maridos. Então, caberá aos maridos decidirem se querem que as mulheres frequentem escolas ou não, afirma ainda o pai de Falmata e Aisha.
Não se trata de um caso isolado no nordeste da Nigéria. Segundo o UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, mais de 10 milhões de crianças na Nigéria não frequentam qualquer escola. A situação tem vindo a deteriorar-se sobretudo no nordeste do país, onde é mais agudo e visível o conflito com os jihadistas do Boko Haram. Nos últimos anos, o grupo terrorista terá destruido mais de 1.400 escolas e assassinado perto de 3 mil professores, segundo as Nações Unidas.
Em abril, assinalou o quarto aniversário do sequestro de 276 estudantes em Chibok, no nordeste do país, renovando os pedidos para a libertação das centenas de outras pessoas ainda nas mãos do grupo extremista islâmico. Quatro anos depois, 112 raparigas continuam em cativeiro e tornaram-se um símbolo dos abusos da insurgência islâmica no nordeste da Nigéria.