Falta de água: Angolanos recorrem a poços perigosos
22 de setembro de 2023A cidade de Menongue, banhada por dois rios na província angolana do Cuando Cubango, continua a enfrentar desafios na distribuição de água tratada. Muitos moradores relatam problemas no fornecimento, uma preocupação que se torna ainda mais urgente para aqueles que residem em áreas próximas a cemitérios.
"Muitas vezes, falta água nas torneiras e somos obrigados a recorrer à água das cacimbas. Aqui, muitas casas têm cacimbas e poucas residências possuem torneiras. Para evitar doenças, uma vez que estamos próximos aos cemitérios, fervemos a água e adicionamos lixívia", conta Laudiana Filomena, residente no bairro "45 casas", próximo ao antigo cemitério "Casa Branca".
Perigos para a saúde
As cacimbas, também conhecidas como poços amazonas, têm profundidades entre 1 e 3 metros e, na maioria das vezes, são utilizadas para sepultar os cidadãos falecidos.
Domingos Ângelo, técnico superior em enfermagem, alerta para os perigos que a água de cacimba representa para a saúde.
"A deposição dos cadáveres, sobretudo em zonas elevadas, leva à sua decomposição. Lá em baixo, os fluidos do corpo se desprendem. Com as chuvas, o solo fica húmido, transportando consigo as bactérias que antes habitavam o organismo e possivelmente o levaram à morte. Esta situação é particularmente grave quando há pessoas que faleceram de doenças contagiosas, como a tuberculose", explica.
Mauro Correia, que também reside junto ao cemitério da "Casa Branca", observa que, apesar da escassez de água, faz o possível para evitar o uso das cacimbas.
"As cacimbas estão ligadas ao lençol freático, a água subterrânea. Quando há escassez, devemos recorrer a outras fontes, como a água mineral. No entanto, nem todos tratam a água das cacimbas. É fundamental que todos cumpram as suas obrigações como cidadãos, inclusive no pagamento das contas de água", destaca Mauro Correia.
Garantias das autoridades
Os moradores esperam que as autoridades tomem medidas para garantir o acesso seguro e confiável a água tratada, especialmente para aqueles que vivem nas proximidades dos cemitérios.
O chefe do departamento de água da região, o engenheiro Rodrigues Malengue, reconhece o problema de distribuição de água: "Ainda há áreas sem rede de distribuição de água, incluindo 21 bairros, principalmente na zona leste", admite.
Rodrigues Malengue garante, no entanto, que os responsáveis locais "estão preocupados e estão a trabalhar em projetos para expandir o acesso à água em mais bairros", enfatizou.