Faltam livros africanos de língua portuguesa no mercado
14 de outubro de 2011Assim como esta, a maior parte das obras africanas expostas na feira, está em estandes europeus. O romance "Bom Dia Camaradas!", do escritor angolano Ndalu Almeida, mais conhecido pelo pseudônimo Ondjaki, foi encontrado no estande alemão da associação Litprom, que promove as literaturas africana, asiática e latinoamericana na Alemanha.
A responsável pelo estande Anita Djafari explica que ainda é difícil divulgar autores africanos no mercado literário alemão, austríaco e suíço. "O continente africano é sempre associado a problemas como a atual crise da fome na Somália". justifica. "Não se pensa, aqui, que existe literatura bem escrita e que entretém vinda do continente africano".
Zeferino Coelho, da editora portuguesa Caminho, é da mesma opinião: "O público europeu, de um modo geral, espera dos autores africanos que sejam africanos. Isso irrita bastante os autores africanos. Eles querem ser só escritores."
Procuram-se autores africanos
Por outro lado, o interesse pelos autores africanos de língua portuguesa tem aumentado, ao menos em Portugal, como constata Zeferino Coelho. Para ele, o motivo para o maior interesse são "as excelentes surpresas da literatura geral vinda da África."
Porém, segundo as fontes ouvidas pela Deutsche Welle, ainda existem poucos livros de autores africanos. Os mercados internos também ainda não são tão bem organizados. A maioria dos autores africanos vive e publica fora do país de origem.
Uma realidade que, no plano da edição, facilita a divulgação de obras em língua portuguesa na Alemanha. Pelo menos, este é o caso de Theo Mesquita, editor e livreiro que em 1980 fundou o Centro do Livro e do Disco em Língua Portuguesa em Frankfurt. Ele divulga livros em português e também obras traduzidas para o alemão de autores lusófonos, incluindo africanos. Para ele, o fato de livros de autores africanos serem editados em Lisboa, por exemplo, barateia a importação e garante qualidade para o público alemão.
O livro em crise
Praticamente impossível foi passar pela Feira do Livro de Frankfurt sem pensar em crises econômicas, já que a Islândia foi o país homenageado desta 63ª edição. Há dois anos, os três principais bancos da Islândia foram à falência, mergulhando o país numa crise financeira.
Em tempos de crise de dívidas européias, como a de Portugal, alguns expositores relataram notar movimento mais fraco nos estandes. "No ano passado, já se sentia alguma crise, todo o mercado já estava a cair e, infelizmente, no Natal, corremos muito mal", queixa-se Bruno Pires Pacheco, secretário geral adjunto da APEL, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Segundo Pacheco, em 2011, "nota-se uma quebra acentuada, fala-se numa quebra na ordem dos 15%".
Autora: Renate Krieger
Edição: Bettina Riffel/Marta Barroso