Angola: famílias de ativistas assassinados fazem "ultimato"
31 de maio de 2017A justiça angolana condenou os agentes dos serviços secretos que assassinaram, há cinco anos atrás, os ativistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule, a penas de prisão. No entanto, até agora, os familiares dos ativistas não receberam, nem as certidões de óbito, nem o dinheiro da compensação do Estado.
Fartas de esperar, as famílias dos ativistas deram um prazo às autoridades. Se até junho não obtiverem resposta, prometem levar caixões para a porta da Procuradoria-Geral da República angolana.
Em entrevista à DW, Adão Cassule, um dos familiares de Isaías Cassule, afirma que a Procuradoria-Geral da República "está à espera de um escândalo" desta família. "Há dias, a mãe deu-nos a ideia de preparar urnas e caixões para depositar na porta da Procuradoria-Geral da República e cobrar os nossos irmãos, que foram mortos. [Queremos que nos dêem] os corpos", afirma.
Há cinco anos que os familiares esperam pelas ossadas e certidões de óbito de Kamulingue e Cassule. Sem isso, não podem realizar os funerais. Os dois ativistas foram mortos por agentes dos Serviços de Inteligência do Estado, ao tentar realizar uma manifestação em Luanda.
Indemnizações não foram pagas
Em março do ano passado, os acusados da morte de Kamulingue e Cassule foram condenados a penas de prisão que variam entre 14 e 17 anos. A justiça angolana determinou ainda o pagamento de quatro milhões de kwanzas de compensação (cerca de 22 mil euros) a cada uma das famílias. Mas os familiares dizem que, até agora, não receberam o dinheiro e que a única coisa que o Estado fez foi entregar duas residências. Ainda faltam os documentos prediais.
Horácio Essuvi, familiar de Aves Kamulingue, exige que a decisão do tribunal seja cumprida. "Enquanto eles não cumprirem com aquilo que se concordou, nós não vamos parar", afirma.
A DW tentou contactar a Procuradoria-Geral da República, sem sucesso. Também não foi possível contactar os advogados dos familiares.
No final do ano passado, em entrevista à DW África, um dos advogados das famílias, Zola Bambi, garantiu que estavam em curso negociações com as autoridades.