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Farmacêutico Somali vende preservativos por sms e quebra tabus

Antje Diekhans / Madalena Sampaio 4 de julho de 2014

Na Somália, onde muitos acreditam que os contraceptivos são apenas para pessoas do Ocidente, um farmacêutico decidiu quebrar tabus. Os seus clientes podem fazer encomendas via SMS e recolhê-las discretamente na recepção.

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Foto: picture-alliance/dpa

A farmácia de Jama Isaak fica num bairro antigo de Mogadíscio, perto do Parlamento e do Palácio Presidencial.

O endereço tem-se espalhado, mas só à boca pequena. É que além de comprimidos para dores de cabeça e pensos rápidos, o farmacêutico de 27 anos também vende contraceptivos.

"Se alguém quiser comprar preservativos, não pode dizê-lo em voz alta na farmácia", explica Jama Isaak. "Na maior parte das vezes vou até à porta, para poder aconselhá-los. Assim, os outros clientes não ficam a saber de nada", conta.

Além disso, o jovem farmacêutico anotou o seu número de telemóvel num quadro pendurado na farmácia.Desta forma, toda a gente pode enviar uma SMS para pedir contraceptivos.

Contributo das tecnologias

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Os clientes de Jama Isaak podem fazer encomendas via SMSFoto: picture-alliance/dpa

Jovens que querem saber mais sobre pílulas anticoncepcionais podem fazer o mesmo. “Eu leio as SMS, fico a saber o que eles querem e posso responder-lhes e dizer o preço. Depois, na minha farmácia, recebem apenas um saco inofensivo", afirma Jama Isaak.

O planeamento familiar é um grande tabu na Somália. Nas regiões controladas pela milícia radical islâmica Al-Shabaab, o uso de preservativos está sujeito a penas severas.

Muitas mulheres dão à luz uma criança todos os anos, embora a família não tenha dinheiro suficiente para alimentar tantas bocas.

Muktar Abdi, membro de uma organização que trabalha no esclarecimento de jovens, conhece bem os motivos. "As pessoas na Somália são muito conservadoras", sublinha.
“É algo que está enraizado na sua cultura e religião. Além disso, não existe um sistema de segurança social e de reformas. Por isso é que as crianças são consideradas provisões para a velhice”, acrescenta Abdi.

Velhas formas de pensar

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Os contraceptivos não são de uso massivo na SomáliaFoto: picture-alliance/dpa

Abdulahi Aden, de 34 anos, já é pai de sete crianças. O antigo professor perdeu o emprego e agora sustenta a família fazendo biscates. Por vezes o que ganha só chega para uma refeição por dia.

Apesar disso, provavelmente em breve voltará a ser pai. “Eu sou o chefe da família e não posso aceitar que a minha mulher use contraceptivos. Casei com ela para ela ter filhos. E ela nada tem a dizer. A decisão é só minha", salienta.

Ideias como esta estão firmemente enraizadas na mente de muitos homens na Somália. O farmacêutico Jama Isaak sabe disso. Mas, ainda assim, o jovem espera aos poucos quebrar as velhas formas de pensar.

O seu desejo é que os preservativos e pílulas não tenham que ficar escondidos nas suas gavetas e possam ser apresentados abertamente ao balcão da sua farmácia.

"Quando olho para os países vizinhos, vejo que a contracepção lá é algo muito normal. Mas aqui ainda precisamos de muitos seminários e campanhas de sensibilização, talvez até também na televisão e na rádio", admite.

Jama Isaak defende que "as pessoas têm de entender que o planeamento familiar não é proibido."

Mas até que isso aconteça, o farmacêutico vai continuar a concentrar-se nos pedidos discretos via SMS.

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