Festival leva a sonoridade de África a Lisboa
24 de junho de 2018As portas do Rock in Rio Lisboa abriram ao público este sábado (23.06) num dia de sol radiante, com mais de 80 mil pessoas no Parque da Bela Vista, na capital portuguesa. Este foi o primeiro dos dois fins de semana do maior festival de música, que foi lançado no Brasil em 1985.
Entretanto, este ano, a oitava edição do evento tem uma particularidade. África tem um espaço que lhe é dedicado, representando a diversidade do continente, considerado berço da humanidade. Destaque para os guineenses do Tabanka Djaz, que atraíram os amantes da música africana, mas principalmente para a atuação do angolano Bonga, cabeça de cartaz que contagiou o público.
Crítica social
O músico angolano radicado em Portugal, dono de muitas canções populares e de intervenção, participa pela primeira vez no Rock in Rio, mas já deixou a sua marca, com um laivo de crítica social. Não só de política falam as suas letras. Bonga também se preocupa com temas como a violência, em particular a violência doméstica. "Preocupa-me tremendamente, porque é desumano. E, como tal, a minha opinião, evidentemente".
Mas fá-lo com subtileza. "Hoje em dia, há uma cobardia tão grande. A gente vê uma mulher a ser espancada na rua e todo o mundo passa tranquilo como se nada fosse. Vergonha para a humanidade", lamenta o artista angolano.
Com a ambição de conquistar o Palco Mundo, o kota Bonga, como é chamado, fala de uma nova esperança que emerge em Angola, com as mudanças que se estão a registar em Angola. "Temos agora uma esperança: a mudança do Presidente. João Lourenço veio com muita força e nós temos que entender, sobretudo, contra a corrupção. É um mal incrível. Temos que encontrar uma vacina para isso".
Raízes da Guiné-Bissau
A abrir o palco da EDP Rock Street, e em homenagem a África, Kimi Djabaté, originário de uma família griot, trouxe as músicas tradicionais da Guiné-Bissau, para também evocar a mulher e o seu papel em nome da humanidade. Mas, na conversa com a DW depois do concerto, fala de uma Guiné-Bissau positiva, distanciada das crises políticas."A Guiné-Bissau tem muitas outras coisas além de política. Tem várias culturas diferentes. Tem mais de 30 etnias diferentes. Então, temos que começar a olhar a Guiné-Bissau como um país rico. Não pensarmos apenas num país de conflitos. Porque quando ficamos com conflitos permanentemente, perdemos muita coisa. Cada vez mais acredito que aquele país um dia vai estar de pé. É como na música, nós temos que evoluir", disse.
Apesar de ter um pé partido, Kimi Djabaté tem vários concertos em 2018. A agenda está praticamente repleta, admitindo que possa atuar também na Alemanha, além de Holanda e Itália.
Mais África em Lisboa
Este domingo, a praça reservada a África vibra com o hip-hop de Karlon, mas os "Ferro e Gaita" estão no topo do cartaz responsáveis pela vibrante onda do funaná genuíno de Cabo Verde. No próximo fim de semana a música é outra.
Depois de um intervalo de quatro dias, os concertos voltam no próximo fim de semana, mais precisamente nos dias 29 e 30, sendo de considerar que a atuação do angolano Paulo Flores será um dos momentos altos do festival.
De acordo com a diretora artística responsável pela programação da EDP Rock Street, Paula Nascimento, "Paulo Flores já fez uma apresentação recentemente do seu último disco, onde se acabou por comemorar em parte os 30 anos de carreira e para quem não conhece será uma excelente oportunidade de vir a conhecer o artista".
A responsável também lembra que haverá a participação de Batuk. "É um dos coletivos mais proeminentes da música eletrónica do mundo inteiro. São da África do Sul e vão cá estar com o seu novo projeto". Paula Nascimento também dá conta ainda da presença de Selma Uamusse, entre outros nomes da música africana convidados a animarem o Parque da Bela Vista.
A jovem cantora moçambicana apresenta uma visão do seu novo trabalho a sair brevemente em disco. "Trata-se de uma participação excelente no contexto deste programa, por ser uma artista jovem com um percurso relativamente recente e com uma força incrível em palco", afirma Paula Nascimento, natural de Luanda.
O segundo fim de semana começa com o A'Mosi Just a Label – o novo nome do angolano Jack Nkanga – que traz para o festival uma proposta de música rock, à mistura com o konono, soul e jazz. O seu conterrâneo Nastio Mosquito vem acompanhado do DZZZZ Band, cujas bases musicais são muito diversificadas, desde o jazz ao soul. Desta forma, pretende mostrar "que é um nome a ter em conta na música alternativa angolana". Referência também a Moh! Kouyaté, da Guiné Conacri, que traz um projeto de rock e blues.