"Calma e paciência", os pontos positivos de Nyusi
13 de janeiro de 2017Filipe Nyusi continuou seguindo no seu segundo ano de Governação sem alcançar o bem maior, a paz. Porém, um passo para que tal seja conseguido foi dado: a presença de mediadores internacionais nas negociações de paz, conforme exigia o maior partido da oposição, a RENAMO. As tréguas no conflito militar em dezembro alimentaram a esperança de um regresso à paz.
Convidado a avaliar a forma como o Presidente moçambicano geriu a crise política o analista político e membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política, Silvério Ronguane não hesita em tecer críticas: "[A negociação] é uma estratégia de isolar a todos, isolar os moçambicanos. Veja que o caso foi resumido a dois homens, de tal maneira que as próprias comissões mistas acredito que foram apanhadas de surpresa, de que os dois líderes [Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama] já se entenderam e que há uma trégua. Tudo à margem das instituições e participação mais alargada."
Já o cientista social Elísio Macamo prefere minimizar parte das culpas atiradas contra o Presidente moçambicano, e começa por recordar que "ele está a ter de gerir um problema que não foi ele que criou, apesar de que foi ministro da Defesa [no mandado anterior]. Esse é um problema que daria dores de cabeça a qualquer Presidente em Moçambique."
E Macamo explica: "Temos dificuldades em aceitar, mas um dos maiores problemas que temos não é o mau funcionamento da democracia, mas sim a RENAMO. A RENAMO seria um problema para qualquer país do mundo, então nesse aspeto ele está a fazer o melhor que qualquer pessoa poderia fazer."
Contudo, o académico moçambicano tem dúvidas sobre as estratégias de Filipe Nyusi e diz: "Ele não me dá a impressão de ter alguma estratégia, falta alguma coisa aí."
Crise financeira: Nyusi com pouco espaço de manobra
Outro aspeto negativo que marcou o último ano de Nyusi foi a crise financeira e económica. A tensa relação do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigiu uma investigação às dívidas ocultas, as dificuldades de honrar compromissos com credores, o corte nos financiamentos externos e a inflação são apenas alguns dos factos que mais se destacaram no campo económico.
Fernanda Massarongo, economista e investigadora do IESE, Instituto de Estudos Sociais e Económicos, esclarece que essa conjuntura não deu muito espaço de manobra a Filipe Nyusi. Ela explica que "grande parte dos desafios económicos de Moçambique e das atitudes do Presidente foram ofuscadas pelas dívidas ilegais, e por causa disso o país ficou sem ajuda externa, um instrumento importante para as atividades económicas do Presidente."
E a investigadora do IESE finaliza: "Por causa da situação político-militar os investimentos diretos estrangeiros baixaram. Então, todas essas dificuldades ofuscaram as atividades do Presidente. Moçambique é um país dependente de capitais externos e quando esses capitais param de fluir na intensidade que o país necessita há muito pouco que se possa fazer internamente."
Já Silvério Ronguane não relativiza as circunstâncias subjacentes a crise financeira e económica. O analista crítica o Presidente Nyusi na gestão deste dossier: "Avalio de uma forma muito negativa. É uma crise que herdou do antigo Governo, mas mostrou-se totalmente incapaz de dar volta ao assunto tanto a procurar saber como foram contraídas as dívidas e o seu fim até a encontrar caminhos para responsabilizar os seus responsáveis."
Aumento da criminialidade: Falta de respostas
A criminalidade foi outra mancha bem visível durante o último ano de Nyusi. De janeiro a dezembro de 2016 o país assistiu a assassinatos frequentes de membros da RENAMO. Os raptos de destacados empresários, iniciados no consulado de Armando Guebuza, não cessaram, para além do aumento de denúncias internacionais de casos de corrupção e até assassinatos de polícias, sem explicação.
Ronguane mais uma vez aponta o dedo acusador ao Presidente. Ele recorda que "não existe ninguém que tenha sido preso porque assassinou membros da RENAMO, não têm sido apresentados os mandantes dos sequestradores nem pessoas em conexão com a morte de polícias."
E por isso o analista conclui: "Portanto, é uma situação tão grave e dramática que pelo menos se há coisas positivas não são visíveis."
Mas para o sociólogo moçambicano Elísio Macamo há sim pontos positivos a destacar na atuação do Presidente moçambicano: "Um grande ponto positivo é ter sido capaz de manter muita calma no meio de uma situação que herdou, o que é extremamente complicado. O país precisa desse tipo de personalidade a frente dos destinos, uma pessoa com essa calma e paciência."