Fim de ciclo no Barcelona?
15 de agosto de 2020O "Futbol Club Barcelona", fundado a 2 de novembro de 1899, viveu, nesta passada sexta-feira (14.08), um dos momentos desportivos mais "trágicos" na história do clube.
A vergonhosa, humilhante, trágica, tareia, pisadela - o adjetivo fica à escolha do leitor - derrota por 2-8 frente ao Bayern Munique, não representa apenas uma eliminação nos quartos de final da Liga dos Campeões, mas sim a maior derrota "europeia" na história do Barcelona, que conta com 30 participcações na Liga dos Campeões (3º maior) e cinco títulos de campeão europeu conquistados.
Pior só há mais de 90 anos
Pior que este resultado, teríamos de recorrer aos "loucos" anos 30 e 40 do clube catalão. A maior derrota do Barcelona, para uma competição oficial, foi em 1931, por 12-1, frente ao Athletic Bilbao, a contar para o campeonato espanhol. Em 1940, quem entrou para a história foi o Sevilha, com uma vitória por 11-1 sobre o Barcelona, também para o campeonato espanhol. Voltanto ao presente (2020), mas sem virar costas ao passado, a derrota por 2-8 frente ao Bayern Munique igualou a terceira maior goleada sofrida pelo Barcelona. Em 1935, os "culés" perderam pelo mesmo resultado frente ao grande rival, Real Madrid, também para o campeonato.
85 anos depois, em 2020, o futebol mudou. Passou de um passatempo a uma indústria que mexe com a comunicação social, com a cultura, com o dinheiro e, acima de tudo, com os adeptos. Amantes esses, que desde a viragem do milénio, habituaram-se a ver o Barcelona ganhar. Não sempre, mas mais vezes do que via perder. Então, desde a "criação" de Lionel Messi, na "La Masia" (academia de formação do Barcelona) - estreou-se em 2004,com apenas 16 anos - e a implementação do "tiki-taka" de Pep Guardiola, o Barcelona ganhou quatro das cinco Ligas dos Campeões que têm no museu.
Entretanto, Pep Guardiola há muito que abandonou Camp Nou (2012) e depois do legado que deixou, o Barcelona ficou refém do sucesso do modelo aplicado pelo treinador espanhol, mas criado pelo já falecido, Johan Cruyff, lenda do futebol mundial e que marcou uma mudança de mentalidade no futebol do Barcelona entre 1988 e 1996. Sempre que entra um treinador novo no Barcelona, é quase que inevitável a comparação com Pep Guardiola e é-lhe quase que interrogado, se vem com ideias novas ou se vai respeitar e manter um modelo futebolístico criado e aplicado por pessoas que já não estão no Barcelona.
Presidente do Barcelona: "É preciso tomar decisões"
Josep Maria Bartomeu é presidente do Barcelona desde janeiro de 2014. O dirigente espanhol de 57 anos sucedeu a Sandro Rosell, ex-presidente que saiu do Barcelona sob investigação da justiça, suspeito de lavagem de dinheiro.
Em seis anos de mandato, este é o momento mais difícil da vida do Barcelona e Josep Bartomeu, como líder máximo do clube, foi dos primeiros a dar a cara aos adeptos e lamentar o resultado histórico e que irá deixar marcas dentro do clube. Logo após o apito final, o presidente do Barcelona dirigiu-se à sala de imprensa e disse o que lhe ia na alma.
"Não estivemos à altura. É uma noite muito dura, esta derrota é duríssima. Não fomos a equipa que somos e que representamos. Lamentamos muito e pedimos desculpa a todos os adeptos e sócios do Barcelona", começou por dizer o dirigente. "Não estivémos à altura. O Piqué tem razão. É preciso tomar decisões, algumas já temos pensadas. Já há várias decisões tomadas desde antes de retomar a "Champions". Hoje é um dia para refletir. Na próxima semana serão tomadas e comunicadas", explicou Josep Maria Bartomeu.
"Ofereço-me para sair"
Como o leitor pode ler nas palavras citadas do presidente do Barcelona, Josep Bartomeu deu "razão" a Piqué. O defesa-central do Barcelona, também um dos capitães e líderes de balneário, não poupou nas palavras e até se ofereceu para saír, afirmando que "ninguem é imprescindível".
"Foi um jogo horrível. A palavra certa para definir é vergonha. Não podemos competir assim e não é primeira, segunda ou terceira vez que isto nos acontece. É muito duro, mas espero que sirva para algo. Todos temos de refletir e o clube precisa de mudanças. Não falo apenas de treinador ou jogadores, o clube precisa de todo o tipo de mudanças», disse o internacional espanhol na zona de perguntas rápidas.
Sem grande medição do impacto que as palavras, naquele momento a quente, poderiam ter no mundo dos "culés", Piqué ofereceu-se mesmo para sair, comentando que os catalães precisam de sangue novo.
"Ninguém é imprescindível. Sou o primeiro a oferecer-me para sair, se for preciso sangue novo e mudar esta dinâmica. Batemos no fundo. Todos temos que refletir internamente e decidir o melhor para o clube, isso é o mais importante", concluiu.
Quem também não fugiu à responsabilidade desta derrota, foi o treinador, Quique Setién. O técnico espanhol, que havia substituido Ernesto Valverde em janeiro deste ano, foi sincero e não tentou entrar em "conversas mansas". Setién disse "não haver mensagem que possa servir" para explicar o que aconteceu ao Barcelona.
Sem justificação para tal humilhação
"Creio que a mensagem é clara. Não há mensagem construtiva que possa servir. Estamos todos frustrados. Para os adeptos é tremendamente doloroso. O Gerard (Piqué) é um jogador que esteve aqui a vida toda. A reflexão que fez seguramente faz sentido. O Barcelona precisa de recuperar a sua identidade, de esquecer isto. A reflexão dele indica alguma coisa", começou por dizer o técnico dos catalães.
"Sou consciente do que uma derrota deste calibre significa. O que se passou hoje é preciso analisar. Fora os primeiros minutos em que tivemos as nossas oportunidades, eles foram superiores no resto do jogo», finalizou o técnico.
De Lionel Messi, o maior jogador da história do Barcelona - que tem contrato apenas até junho de 2021 - e um dos melhores jogadores da história do futebol mundial, nem uma palavra...