Fim de missão da ONU na Guiné-Bissau é boa ideia?
12 de dezembro de 2018Um relatório de avaliação de um perito independente, divulgado na terça-feira (11.12), propõe o fim da missão do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz (UNIOGBIS) em 2020 e a reconfiguração do sistema da ONU no país.
O documento relançou o debate quanto à velha questão sobre se a Guiné-Bissau precisa de uma força de manutenção da paz ou se o país já está em condições de caminhar pelos próprios pés, sem golpes de Estado.
O analista guineense Luís Petit diz que compreende a intenção da comunidade internacional de querer deixar o país, mas sugere que se continue a acompanhar a atividade governativa de perto. Petit realça que, se não fosse a presença da UNIOGBIS ou da ECOMIB, a força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, já poderia ter havido um golpe de Estado.
Com "a crise que vivemos nos últimos três anos, houve momentos quase que propícios para que houvesse uma situação de intervenção militar, mas não houve, justamente, na minha opinião, porque há uma força de interposição. A atividade da UNIOGBIS também tem sido muito importante para não permitir essa intervenção", afirma.
Missão "precisa terminar, sim"
O consultor guineense Luís Vicente considera que a presença do Gabinete da ONU para a Consolidação da Paz já não faz tanto sentido como no passado.
"Julgo que a paz já está consolidada. Não estamos em guerra, e não vamos agora massacrar-nos com aquilo que é o objetivo para o qual foi criado [o gabinete]. É preciso terminar, sim. A guerra civil terminou", afirma Vicente em entrevista à DW África.
No entanto, as Nações Unidas ainda têm um papel fundamental a desempenhar, segundo este analista: "Hoje em dia, há problemas e guerras intestinas no seio dos partidos, do Governo e da Presidência. Há um desentendimento muito latente. É preciso os guineenses se sentem à mesa e discutam. A ONU pode dar um contributo muito grande neste processo de aproximação."
E eleições?
Apesar de, desde o fim do conflito político-militar em 1999, não ter havido "violência generalizada" no país, o relatório divulgado pela ONU considera que a Guiné-Bissau se tem "mantido submersa num estado de instabilidade política crónica que poderá tornar-se mais volátil durante as eleições".
Luís Vicente não vê, no entanto, motivos para que tanto a UNIOGBIS, como a ECOMIB sejam considerados elementos dissuasores para possíveis sabotagens do processo eleitoral, contrariamente ao que sustenta o relatório.
O também gestor guineense acredita que os guineenses podem resolver os seus problemas. Segundo Vicente, a comunidade internacional poderia continuar a ajudar o país, na base do diálogo e do confronto de ideias. Vicente sugere que a ONU na Guiné-Bissau redirecione a sua atuação e se foque na ajuda técnica e diplomática e não tanto no apoio político, como faz atualmente.