Flora Nwapa: Mãe da literatura africana moderna
6 de agosto de 2020Nascimento: Flora Nwapa nasceu em janeiro de 1931, em Oguta, Estado de Imo, na Nigéria Oriental. Frequentou a escola em Oguta, Port Harcourt e Lagos, na Nigéria, tendo prosseguido os seus estudos no University College Ibadan, na Nigéria, e mais tarde na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. Nwapa morreu de pneumonia aos 62 anos de idade, em outubro de 1993.
Quais os temas dos seus livros?
Flora Nwapa procurou, através dos seus livros, mudar a narrativa dos autores africanos do sexo masculino, cujas obras estavam cheias de estereótipos sobre a mulher africana. Nas suas obras, Flora Nwapa preferiu contar histórias de sucesso de mulheres africanas. Romances como"Efuru"e "Idu" trouxeram outro olhar sobre a mulher africana, que era retratada, na maioria das vezes, como uma pessoa dócil, submissa e que deveria viver na sombra do marido.
Quais são os romances mais notáveis de Flora Nwapa?
Um dos romances mais notáveis de Flora Nwapa é "Efuru". Conta a história de uma mulher que luta para sustentar financeiramente o marido e o pai. Efuru, a protagonista do romance, quebra estereótipos anti-feministas da sociedade tradicional africana ao mostrar que pensa pela sua própria cabeça. E toma algumas decisões cruciais na sua vida com base naquilo que considera ser o mais acertado para ela, em vez de seguir as exigências da sociedade como manda a tradição. Outros romances que se destacam são: "Idu", "Never Again" (Nunca Mais), "One Is Enough" (Um é suficiente) e "Women Are Different" (As mulheres são diferentes).
Legado: Talvez o legado mais duradouro de Flora Nwapa seja o nascimento de escritoras nigerianas contemporâneas que reproduzem os temas dos seus romances, numa tentativa de mudar a narrativa negativa que existe sobre a mulher africana numa indústria liderada por homens.
Flora Nwapa era feminista?
Embora Flora Nwapa não se definisse como feminista, alguns dos seus livros são conhecidos por defenderem os direitos das mulheres. Nas suas obras, a escritora criou personagens femininas que desafiam práticas culturais, que considerava injustas, e a que as mulheres africanas estão sujeitas quando ficam viúvas ou quando não conseguem ter filhos. A escritora é ainda hoje uma inspiração para as ativistas dos direitos das mulheres na Nigéria.
O primeiro romance de Flora Nwapa, "Efuru", foi impresso em 1966. Foi também esta a obra que fez desta a primeira mulher africana a publicar um romance em língua inglesa, através da editora Heinemann.
Em entrevista à DW África, Azumurana Solomon Omatsola, especialista em romances africanos e afro-americanos da Universidade de Lagos, explica que "é por isso que a descreve como a matriarca das obras feministas em África". "Creio que não há outra escritora, para além de Flora Nwapa, que se qualifique como a mãe", acrescenta.
Uma década depois de "Efuru" ter sido publicado, Flora Nwapa tornou-se na primeira editora africana, no verdadeiro sentido da palavra. Desiludida com a sua editora londrina, a nigeriana fundou a Tana Press, editora que passou a publicar as suas próprias obras e as de outros escritores.
As suas obras ficaram na História, pois ao invés de seguir os roteiros escritos por grande parte dos romancistas africanos, que nas suas histórias confinam as mulheres ao lar, Flora Nwapa usou a sua obra para contar histórias de mulheres de sucesso. "O seu objetivo foi apresentar uma contra-narrativa ao retrato que os homens fazem da mulher. Segundo a tradição africana, as mulheres devem ser dóceis, submissas e depender dos maridos. No entanto, em todos os romances de Nwapa temos mulheres independentes, algumas que até sustentam as suas próprias casas. O principal objetivo da obra de Nwapa foi fornecer uma contra-narrativa", explica Azumurana Solomon Omatsola.
Nas suas obras, a autora nigeriana criou personagens que desafiaram algumas práticas culturais que considerava injustas e a que as mulheres africanas estavam sujeitas, uma prática que influenciou muitas escritoras africanas que se seguiram.
"Ela parece ser a precursora do que muitos mulheres estão a escrever neste momento. Na medida em que fez nascer outras escritoras, ela é uma pioneira que outras escritoras estão a seguir. Ela conseguiu muito. Morreu em 1993 e continuamos a lembrá-la até aos dias que correm. E continuam a existir escritoras contemporâneas a replicar o que Nwapa fez nos seus romances", diz.
Também Betty Abah, ativista dos direitos das mulheres, é desta opinião. Em entrevista à DW, sublinha que estas obras foram além do espaço literário, tendo tido também um grande papel social no país em questões que se repetem até hoje. "Tal como no seu tempo, continuamos a ter problemas relacionados com a viuvez, os filhos, a herança e todo o tipo de tradições que são prejudiciais para as mulheres. Tal como ela o fez na literatura, na vida real, nós, mulheres, continuámos a dar voz a essas injustiças a que as mulheres não devem ser sujeitas. As mulheres têm direito à herança e não devem ser sujeitas a tratamentos desumanos por não conseguirem ter filhos", conta.
Flora Nwapa morreu aos 62 anos de idade, vítima de pneumonia.
O parecer científico sobre este artigo foi dado pelos historiadores Lily Mafela, professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.