Fome aumenta e atinge 815 milhões de pessoas no mundo
15 de setembro de 2017A fome no mundo aumentou, pela primeira vez, em mais de uma década e atinge agora 11% da população global. No ano passado, 815 milhões de pessoas foram afetadas pelo problema, 38 milhões a mais do que em 2015 – devido, em parte, ao aquecimento global piorando condições climáticas e também a conflitos. Um crescimento da economia mais lento, que levou ao colapso nos preços de commodities, também teve impacto na habilidade de pessoas, em vários países, de se alimentarem.
A conclusão é de agências das Nações Unidas (ONU) e fruto do primeiro relatório desde que governos internacionais determinaram um prazo para eliminar a fome e a desnutrição no mundo: 2030. É um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, estabelecidos em 2015. "É um retrocesso que nós já esperávamos desde o ano passado, porque nós tínhamos uma intensificação dos conflitos", disse o diretor geral da FAO, o braço da ONU para a agricultura e a alimentação, à DW, José Graziano da Silva.
A fome começou a aumentar em 2014. Cerca de 489 milhões de pessoas atingidas vivem em países que sofrem por conflitos. "Na última década, os conflitos aumentaram dramaticamente em número e se tornaram mais complexos, de difícil solução", afirmam os chefes das cinco agências da ONU envolvidas no relatório.
A escassez de alimentos atingiu partes do Sudão do Sul no início deste ano e há um risco alto de que ela possa retornar – e se desenvolver em outros países também impactados por conflitos: Nigéria, Somália e o Iêmen, que tem 14 milhões de pessoas sem acesso a alimentos, de acordo com o relatório.A Ásia é onde mais pessoas são afetadas pelo problema: 520 milhões de pessoas. Mas é na África Subsaariana onde está a mais alta proporção em relação ao número de habitantes: 20% da população.
Fome na África
Em todo o continente africano, são 243 milhões de pessoas que sofrem com a fome. "A região tomada por conflito hoje na África é muito maior e envolve um número muito maior de pessoas do que os conflitos da Síria e da Líbia, que eram os que nos preocupavam no ano passado", alega José Graziano da Silva, diretor geral da FAO.
No que diz respeito aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), houve um significativo avanço na erradicação do problema. Em Moçambique, 26% da população sofre com a insegurança alimentar, aproximadamente 7,4 milhões de moçambicanos. Em Angola, o percentual de famintos atinge 14%, cerca de 3,5 milhões de angolanos. Porém, a crise nos dois países colocam em risco os resultados positivos, diz Graziano. "Os principais instrumentos de combate à fome e à pobreza extrema estão sendo reduzidos", declara. A solução para colocar um ponto final a eles e salvar vidas, segundo o diretor geral da FAO, é através da subsistência.
Fome e crianças
O número de crianças afetadas pela escassez de alimentos caiu de 29,5% em 2005 para 22,9% no ano passado. O mundo tem, atualmente, 155 milhões de crianças com até cinco anos passando fome.
"Há uma redução, também vemos que ela não acontece tão rápido como gostaríamos", diz Victor Aguaya, o diretor de nutrição do Fundo para a Infância da ONU (UNICEF), uma das agências envolvidas na produção do relatório.
Em contrapartida, o relatório também aponta o problema da obesidade infantil – que atinge cerca de 41 milhões de crianças ao redor do mundo."Obesidade vai afetar, cada vez mais, os pobres, causada por dieta ruim e por um estilo de vida sedentário", completa Aguayo.