Fome no Sudão do Sul afeta 100 mil pessoas
28 de fevereiro de 2017Segundo os números da Organização das Nações Unidas (ONU), 100 mil sul-sudaneses estão a passar fome. E 4,9 milhões de pessoas - mais de 40% da população - precisa de ajuda alimentar urgente.
O estado de Leer é uma das regiões mais afetadas. No centro de distribuição do Programa Alimentar Mundial (PAM), milhares de pessoas esperam em longas filas para se poderem registar e obter comida.
Andrew Ran, de 47 anos, com sete filhos, é um dos 56 mil sul-sudaneses que estão a passar fome em Leer. Na fila de espera, conta que sobrevive graças a plantas selvagens: "Vamos ao rio e apanhamos os chamados lírios de água e às vezes pescamos. Mas os inimigos aparecem sempre. É por isso que não podemos cultivar nesta região".
Controlado pelos rebeldes, o estado de Leer é a terra natal do líder rebelde e ex-vice-presidente Riek Machar. Desde dezembro de 2013, os rebeldes fiéis a Machar combatem as forças governamentais do Presidente Salva Kiir.
Por causa do conflito, não há serviços governamentais a funcionar em Leer e as infraestruturas públicas foram queimadas. Os locais dizem que as forças governamentais incendiaram a região em dezembro último.
Comer à noite para sobreviver
Bol Mol, de 45 anos, que diz ter 39 filhos, arranjou uma maneira de sobreviver. "No sistema tradicional, comíamos duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Mas numa situação como esta, comemos à noite. Assim, podemos passar a noite e o dia seguinte sem comida, até voltarmos a obter comida à noite", conta.
Segundo George Fomyien, funcionário do PAM, a insegurança e os bloqueios que o Governo impôs no acesso de organizações de ajuda a algumas regiões só fizeram piorar a situação.
"O maior problema é a insegurança em algumas regiões que torna muito difícil o acesso. Ouvimos das pessoas nesta comunidade que foram constantemente atacadas, que as casas foram queimadas e por isso tiveram de fugir", relata George Fomyien.
Refugiados no Sudão
Desde janeiro, terão entrado no vizinho Sudão cerca de 32 mil sul-sudaneses que fogem do conflito, de acordo com um relatório divulgado pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Refugiados relataram à agência das Nações Unidas que têm de caminhar cinco a sete dias para chegar à fronteira com o Sudão. A grande maioria (90%) são mulheres e crianças. "Muitos chegam exaustos e em más condições de saúde, muitas vezes com níveis críticos de desnutrição", diz o ACNUR.
Desde o início da guerra civil no Sudão do Sul, em dezembro de 2013, chegaram ao Sudão perto de 330 mil refugiados.