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Crise do petróleo? Fundo Soberano de Angola "não serve"

Nelson Sul D'Angola (Benguela)22 de janeiro de 2015

O economista Filomeno Vieira Lopes diz que o fundo devia ser capaz de ajudar a atenuar a atual crise, motivada pela baixa do preço do petróleo a nível mundial. Mas o fundo não está talhado para isso – um "erro grave".

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Foto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

O Fundo Soberano de Angola irá, ou não, ajudar a enfrentar a atual crise motivada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional? É provável que não, mas devia fazê-lo, diz o economista Filomeno Vieira Lopes.

Segundo o quadro sénior da petrolífera angolana Sonangol e dirigente do partido extra-parlamentar Bloco Democrático, o fundo foi, sobretudo, concebido para fazer investimentos e não para enfrentar as flutuações nos preços das matérias-primas.

"O Fundo Soberano de Angola não foi constituído para desempenhar o papel de fundo de estabilização, algo que foi um erro grave da política económica, que não acautelou o futuro", afirma Vieira Lopes. "Mas o fundo é constantemente alimentado e pode até canalizar algumas receitas para acautelar certas situações, que podem ser muito dolorosas para o povo."

A crise do petróleo obrigou o Governo angolano a reduzir as despesas públicas e a cancelar projetos educacionais e habitacionais.

José Filomeno dos Santos
José Filomeno dos Santos, presidente do Fundo Soberano de AngolaFoto: Grayling

Investimentos do fundo

Desde a sua criação, em março de 2011, o Fundo Soberano de Angola tem investido em diversos países da África subsaariana e na Europa, nos setores das infraestruturas, energia e hotelaria.

Recentemente, José Filomeno dos Santos, presidente do fundo e filho do Presidente angolano, anunciou que aquela instituição iria alocar 1,1 mil milhões de dólares (cerca de 880 milhões de euros) para investimentos em energia, transportes e outras infraestruturas. 500 milhões de dólares (401 milhões de euros) seriam disponibilizados para um outro fundo, destinado a investimentos na hotelaria e em projetos ambientais.

O anúncio do presidente do fundo surge num momento em que o país enfrenta problemas financeiros sérios. Será possível suspender alguns dos investimentos projetados para acudir à crise atual?

Mais uma vez, Filomeno Vieira Lopes diz que é pouco provável que isso aconteça. "Se forem investimentos muito importantes, fica um pouco difícil recuar", refere o economista. Ainda assim, "aparentemente, nem todo o Fundo está a ser utilizado, pelas contas que nos são transmitidas."

Sucessor de José Eduardo dos Santos?

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Outro dos motivos para o ceticismo de Vieira Lopes prende-se com a própria génese do fundo. Na perspetiva do dirigente do Bloco Democrático, a instituição foi desenhada para que o filho do Presidente angolano disponha de um instrumento para poder ganhar influência em África e no mundo, tendo já em vista a substituição, no futuro, de José Eduardo dos Santos.

"Esta é uma das hipóteses muito fortes que se coloca", diz Filomeno Vieira Lopes. "Estas coisas não se fazem por meras imposições. Fazem-se com atitudes práticas."

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