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Fórum China-África: Os milhões de Xi e a ausência de JLo

5 de setembro de 2024

Presidente chinês Xi Jinping promete investimentos milionários no continente africano. Presidente angolano não foi a Pequim. Académico diz que a China é mais importante para África do que EUA ou União Europeia.

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Fotografia de família durante o Fórum de Cooperação China-África, em Pequim, esta quinta-feira (05.09)
Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu dezenas de líderes africanos, mas o Presidente angolano, João Lourenço, não esteve presenteFoto: Andy Wong/AP/picture alliance

Durante o Fórum de Cooperação China-África, esta semana, o Presidente chinês Xi Jinping reafirmou o compromisso da China com o desenvolvimento do continente, prometendo investir 45,8 mil milhões de euros até 2027 e criar um milhão de empregos.

Com a presença de 50 líderes africanos no fórum, em Pequim, fora da lista de presenças ficou o Presidente angolano, João Lourenço, apesar da China ser o maior credor do país e de Angola ser o maior parceiro económico chinês na África subsaariana. 

À DW, a Presidência de Angola explicou que a ausência de Lourenço se deve a uma "visita privada" aos Emirados Árabes Unidos.

Em entrevista à DW, o académico Flávio Inocêncio afirma que isso não deve ser interpretado como um afastamento diplomático, mas sim como uma questão de agenda interna, dada a importância contínua da relação entre Angola e China. Inocêncio ressalta que, do ponto de vista geopolítico, a China é muito mais importante do que os Estados Unidos ou a União Europeia.

DW África: Como interpreta a ausência do Presidente João Lourenço neste fórum, dada a importância da China para a economia angolana?

Flávio Inocêncio (FI): Eu creio que o Presidente angolano foi aos Emirados Árabes Unidos para uma visita privada. Não vejo isso como um grande problema, porque depende da disponibilidade pessoal. Agora, é importante que nos engajemos com a China, não só pelo facto de sermos parceiros comerciais, mas também porque é preciso olhar para o futuro. Há uma procura na Ásia por minerais para a transição energética, e a  China é a maior economia asiática.

Académico Flávio Inocêncio
Flávio Inocêncio: "Os chineses veem África como uma região prioritária. Estão interessados em investir em África, para poderem industrializar o continente"Foto: privat

Portanto, não vejo nisso como uma diminuição nas relações com a China. Fomos representados pelo Ministro das Relações Exteriores, creio que fomos bem representados. E não ouvi nenhum comunicado oficial do nosso Executivo que demonstrasse que essa relação foi minimizada.

A minha opinião é que, em termos de política de Estado, independentemente de quem seja o Presidente que tenhamos em Angola, a relação com a China é uma das principais neste momento, porque é o nosso maior parceiro comercial, tanto que as nossas exportações, seja de petróleo e gás, vão para a China e a Índia. Não há como minimizarmos esta relação. Do ponto de vista geopolítico, a China é muito mais importante do que os Estados Unidos ou a União Europeia. Este é um facto que temos de considerar, também do ponto de vista económico.

DW África: Considerando que Angola é o maior devedor da China na África subsaariana, há espaço para uma renegociação da dívida à luz desta cooperação?

FI: Esta é uma questão bilateral, mas a verdade é que a nossa dívida não é assim tão grande. Neste momento ronda os 18 mil milhões de dólares e já andou à volta dos 40 mil milhões de dólares. Nós já pagámos parte dessa dívida.

Para mim, o fundamental em relação à dívida é que façamos a economia angolana crescer mais rapidamente, para que possamos pagar a dívida mais rapidamente. A dívida não é necessariamente uma coisa má. O que é mau é usarmos mal os investimentos. Mas o principal problema em Angola, penso eu, é o fraco crescimento económico nos últimos oito ou nove anos, e isso condicionou em parte o pagamento da dívida.

Fórum China-África, em Pequim
Fórum China-África: Apesar da ausência de João Lourenço, Angola e a China firmaram uma cooperação para acelerar a construção do metro de superfície de LuandaFoto: Zhai Jianlan/picture alliance/Xinhua News Agency

DW África: Como avalia o impacto das novas promessas de Xi Jinping, especialmente os 51 mil milhões de dólares para infraestruturas, no contexto da economia angolana?

FI: Considero a China um parceiro comercial muito importante. Na verdade, costumo dizer que temos de começar a olhar mais para a Ásia - não porque queremos afastar-nos do [continente europeu], pelo contrário, acredito que a União Europeia continuará a ser um dos maiores parceiros comerciais de África.

[Mas] a China está num processo de transformação da sua economia. Hoje, não se baseia apenas em exportações baratas, ou produtos de baixo valor acrescentado; está numa transformação que inclui o investimento em energias renováveis, algo que também pode ajudar o nosso continente de várias maneiras. Por exemplo, através do aumento da procura por minerais. E hoje os chineses também veem África não só como um lugar onde vão depositar os seus produtos, que não conseguem vender no Ocidente; pelo contrário, veem África como uma região prioritária. Estão interessados em investir em África, para poderem industrializar o continente. E este é um dos aspectos que não se discutia há dez ou vinte anos. Xi Jinping tocou neste ponto.

China na corrida geoestratégica por África