Governo dos Camarões ameaça revogar licenças à imprensa
30 de janeiro de 2017O Governo de Yaoundé parece preocupado com as notícias que saem para o mundo sobre a situação nas regiões anglófonas do país e está a ameaçar os jornalistas de meios de comunicação internacionais com sanções para evitar que escrevam sobre o que está a acontecer nas regiões anglófonas do país. Entre o grupo de profissionais que recebeu o alerta está o correspondente da DW nos Camarões, Moki Kindzeka, a quem foi confiscado algum material, nomeadamente o telefone.
O Conselho Nacional de Comunicação, órgão que regula o setor, avisou que os meios de comunicação que relatassem favoravelmente as exigências de separatismo ou federalismo da minoria anglófona podiam ver as licenças revogadas.
O regulador, em comunicado, escreve que ao permitir que falantes de inglês expressem as suas queixas nos meios de comunicação isso vai "afetar negativamente o sistema Republicano, a unidade e a integridade territorial, e os princípios democráticos” do país.
Os jornalistas reagiram, acusando o regulador de estar a tentar amordaçar a imprensa.
Miss sem título
A Miss Camarões foi igualmente apanhada nesta campanha. Este fim de semana, Julie Frankline Cheugue perdeu a título, tendo sido acusada de apoiar o movimento das regiões de língua inglesa.
À DW, Julie Frankline Cheugue conta que soube da informação através da internet e garante que não vai aceitar a sanção porque foi eleita pelo povo. "Não faço parte de um partido político. Apenas faço o que é suposto uma Miss fazer. Em relação ao Noroeste e ao Sudoeste, somo um país unido e a paz é tudo. É o meu único conselho”, adianta.
Já a presidente da comissão que organiza a eleição da Miss Camarões, Solange Ingrid Amougou, afirma à DW que a retirada do título se deve a insubordinação e indisciplina.
"Como modelo, ela deve promover a imagem do país. Não está aqui para criar desordem nem para fazer política. Somos uma organização apartidária. Se quer fazer politica que deixe a coroa. Não misturamos as duas coisas”, explicou.
Protestos desde novembro
A comunidade anglófona considera-se descriminada pela maioria francófona, dando o exemplo dos sistemas de educação e judicial. Alguns não se sentem representados de forma adequada no Governo e queixam-se de uma erosão da identidade anglófona.
Os protestos intensificaram-se em novembro, com greves de advogados e professores. Os advogados queixam-se da influência da língua francesa e questionam a razão de um juiz francófono que não fala inglês ter sido transferido para a região anglófona.
Intensificam-se os pedidos para um referendo sobre o regresso ao federalismo ou a divisão do país. O Governo está contra qualquer uma das opções.
Para evitar a divulgação destas reivindicações, o Executivo já tinha avançado com um bloqueio à internet, com efeito sobretudo nas redes sociais.