Greve: Professores substituídos no arranque das provas
12 de dezembro de 2022Continua a não haver consenso entre o Ministério da Educação e o Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF) em Angola, o que levou os docentes a prosseguir com a paralisação.
No entanto, o Ministério da Educação obrigou os professores a prestarem serviços mínimos e a estarem nas escolas para a fase de exames escolares, que começou esta segunda-feira (12.12).
Na província do Uíge, por exemplo, os professores foram notificados a comparecerem nas escolas através de mensagens telefónicas. Os grevistas denunciam inclusive que foram ameaçados com descontos salariais.
Em declarações à DW, o docente Kinkani Ngangu conta que "alguns diretores estão a dizer que as folhas de salários dos professores que não vão estar na escola no período das provas não vão ser processadas". E que estes professores, "provavelmente", terão um desconto salarial este mês.
O Ministério da Educação informou na sua página oficial do Facebook que, no município de Mucaba, no Uíge, as provas foram realizadas com sucesso.
Esta é a única região em que o Governo confirma que as provas foram realizadas.
Kinkani Ngangu diz que muitos alunos não fizeram as provas por falta de professores em vários municípios do Uíge. Noutras escolas, os diretores monitorizaram as provas.
A situação foi idêntica na capital angolana, Luanda. Os professores também terão sido coagidos a escolher entre a greve ou o desconto salarial. Mas houve resistência dos professores.
Docentes substituídos
No município de Viana, os professores foram substituídos por seguranças e auxiliares de limpeza.
Mas "quem é que vai tirar as dúvidas aos alunos?", questionou, em entrevista à DW, o docente Fernando Laureano
Os alunos "não vão ter o mesmo aproveitamento, porque é o professor que deve tirar as dúvidas. Este contacto da senhora da limpeza com os alunos é só para marcar presença. Com as provas que estão a ser dadas desta forma, não estamos a ver aproveitamento no seio dos alunos".
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) considera um desrespeito aos professores grevistas e aos alunos o facto das escolas mobilizarem auxiliares da limpeza para monitorizarem as provas.
Francisco Teixeira, líder do movimento, pede aos alunos para não irem à escola enquanto durar a greve, que termina na sexta-feira (16.12).
"Apelamos aos pais e encarregados de educação para que não mandem os vossos filhos às escolas até que esta situação seja ultrapassada. Que sejam os professores que lecionaram a darem as provas, e a fazer a revisão, e que sejam eles a fazer a correção [das provas], porque são eles que ministram as aulas. A correção só é feita por uma outra pessoa nos exames finais. Não podemos aceitar que o Ministério da Educação atropele tudo isso", frisa.
O professor Fernando Laureano, que é também o secretário provincial do SINPROF em Luanda, diz que nenhum professor grevista poderá corrigir as provas. "E não devem lançar as notas na mini pauta, porque seremos descontados pelo período em que estamos em greve", lembra.
Protestos em 2023
O Movimento dos Estudantes Angolanos anunciou, entretanto, a realização de manifestações em janeiro contra as "violações" da lei de bases da educação e ensino.
"Vamos fazer vários protestos no Ministério da Educação nas primeiras semanas do próximo mês para mostrar a nossa indignação aos atropelos aos direitos dos estudantes e à falta de respeito ao ensino público", anunciou o líder estudantil.